No silêncio do pensar criterioso,
perdia-se por vezes em teorias sobre o seu futuro. Percebia, então, a finitude
de seu tempo, por meio dos dias tão curtos, o diminuir do cigarro e o acabar de
um livro. Ora, quem nunca quis a imortalidade? Não pela vontade do estar vivo
para sempre, mas por querer o viver completo, esse que ninguém sabe bem o
gosto. Cria-se, assim, o mito do propósito. Por que estamos aqui?
Acontece que poderia pensar por horas,
dias e anos sem nunca chegar a uma conclusão concreta, afinal, existe a verdade
das verdades? Tudo é circunstancial.
E nessas circunstâncias, por vezes
deixa-se cair sobre a cama, enquanto contempla a luz diretamente, até seus
olhos cansarem o suficiente para que se fechem. Durante o escuro, encontra
novamente a vontade de abri-los, por querer ver um pouco mais de todo o
colorir.
Viver é perceber. Às vezes, aceitava
o mover de seu corpo e sentia o rodopiar do vento, o esquentar do sol e o tocar
das sombras. Permitia-se abraçar e amar, através da sensibilidade com o outro,
a vontade de estar junto e a entrega que não tem fim. Viver é permitir. E entendia
que as surpresas são, sim, válidas, e por isso se deixava encantar com o novo trazido
pelas estações sempre tão mesmas e inovadoras.
Mas o bom mesmo era quando ouvia uma
boa música e deixava-se adentrar em um universo paralelo, enquanto luzes lhe
incendiavam o dançar e ria e ria com os outros que lhe acompanhavam. Nesse momento,
o mundo não precisava existir. Ele era completo com o seu dançar absoluto.
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