4 de novembro de 2013

Devaneios do viver


            No silêncio do pensar criterioso, perdia-se por vezes em teorias sobre o seu futuro. Percebia, então, a finitude de seu tempo, por meio dos dias tão curtos, o diminuir do cigarro e o acabar de um livro. Ora, quem nunca quis a imortalidade? Não pela vontade do estar vivo para sempre, mas por querer o viver completo, esse que ninguém sabe bem o gosto. Cria-se, assim, o mito do propósito. Por que estamos aqui?

            Acontece que poderia pensar por horas, dias e anos sem nunca chegar a uma conclusão concreta, afinal, existe a verdade das verdades? Tudo é circunstancial.
            E nessas circunstâncias, por vezes deixa-se cair sobre a cama, enquanto contempla a luz diretamente, até seus olhos cansarem o suficiente para que se fechem. Durante o escuro, encontra novamente a vontade de abri-los, por querer ver um pouco mais de todo o colorir.
            Viver é perceber. Às vezes, aceitava o mover de seu corpo e sentia o rodopiar do vento, o esquentar do sol e o tocar das sombras. Permitia-se abraçar e amar, através da sensibilidade com o outro, a vontade de estar junto e a entrega que não tem fim. Viver é permitir. E entendia que as surpresas são, sim, válidas, e por isso se deixava encantar com o novo trazido pelas estações sempre tão mesmas e inovadoras.

            Mas o bom mesmo era quando ouvia uma boa música e deixava-se adentrar em um universo paralelo, enquanto luzes lhe incendiavam o dançar e ria e ria com os outros que lhe acompanhavam. Nesse momento, o mundo não precisava existir. Ele era completo com o seu dançar absoluto.

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