9 de outubro de 2013

O minuto infinito


“Mamãe, como é a morte? Lenta, rápida, bonita?”
Foi assim que ela recebeu a notícia quando ouviu a conversa reveladora de seu tempo. Ora, todos tínhamos minutos contados, só não sabíamos. A denúncia do fim científico, o relógio falado, esse sim desesperava. Não a ela. Criança tem dessas coisas de saber mais que a gente, por entender que a vida é um mistério só. Nós enxergamos mais que o devido e assim perdemos o ser livre. Ela, entre tosses, consultas e exames, ainda assim conseguia ver um castelo em meio a árvores e um sorriso no meio da bola do sol.
“Porque assim, eu fiquei pensando nesses dias como eu seria levada. Aí fiquei imaginando um trem para o céu, sabe? Vários passageiros: idosos, crianças, adultos... Todos eles bem juntinhos cantando uma música, sabe? Será que é assim? Mas aí fiquei pensando... E a velocidade? Será que é tudo muito rápido ou a viagem dura horas e horas? Você sabe que eu não gosto de estrada que não chega a lugar algum. Pra mim as coisas têm que ser ágeis e pronto.”
8 meses. Dava para fazer tanta coisa nesse tempo. Desenhar em todas as paredes da casa, visitar a Disney, dançar, cantar, fazer uma festança... E depois ela iria viajar para sempre, embarcaria no trem para o céu e finalmente conseguiria contar todas as estrelas.
“Mamãe, será que a lua vai querer ser minha amiga?”
Ficou imaginando todos aqueles planetas olhando para ela, acenando. E depois viriam os anjos... Ela só queria encontrar um deles e já o via, já imaginava. Estariam juntos para todo o sempre.
“Mamãe, será que eu vou te ver?”
E no quarto escuro, abraçada em seu urso melhor amigo, ela sussurrava as perguntas e recebia todas as respostas. A última questão, no entanto, permaneceu um mistério insolúvel. Nessa hora, a sua mãe não disse nada e a criança ficou repetindo, repetindo, repetindo a pergunta que tanto queria saber... até que dormiu. E os oito meses, ao contrário do que pensou, passaram numa rapidez só para a família que não sabia dessa coisa de fazer um minuto ser infinito. A menina entendia disso e seus meses foram mais ricos e imagéticos que o de qualquer um. Ela descobriu o seu mundo.

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