30 de junho de 2015

Samba Amarelo

Para os amigos Lupiteiros

            “Apenas apanhei na beira mar um táxi pra estação lunar.” Começo dizendo que, embora eu cite a música dos três mestres nordestinos, o táxi era tão real quanto eu. Amarelo, marcas em azul e um taxímetro em que o preço subia e subia… E nós descíamos de Santa Teresa, enquanto pensávamos no que a noite nos reservava. Despretensiosos, os cinco se amontoaram no carro do taxista mais legal do mundo. Nos sentimos tão felizes como se tivéssemos pegado um trem para um reino encantado, sem nos importar, pela primeira vez, com a falta do bondinho charmoso.

23 de maio de 2015

Difuso



Em baixo, um morro se estendia para uma descida. O carro ia, quase que sozinho. Por trás do volante, alguém que se encontrava no automático. Sinais que eram ora verde, ora vermelho e, em um lampejo, laranja. Pessoas que andam. Lembrei-me das minhas melhores noites. Todas elas quando eu estava longe. Será que é para todo mundo assim? Memórias só são incríveis quando distantes? Agora estou perto. O problema é que a gente sempre está perto de alguma coisa. Então a questão não deve ser o espaço, mas a pessoa. Ou talvez o tempo.
“Você nunca parece estar aqui.”

8 de abril de 2015

Até

Inocente até o momento
em que o corpo pede
e se faz doce

Inconsequente até o ponto
em que a mente diz
e lhe impõe limites

Sensorial até o ápice
Quando tudo chega
e o expirar suspira

Rápido e lento
Até a margem
quando não há tempo

Tempo, tempo…
Até o fim
que se faz morte

23 de março de 2015

Os dois dali

       Ela se apoiava sobre os braços, equilibrando a carcaça e tudo, de maneira a não cair ou despencar daquele banco alto e confuso, feito para que as pessoas tropeçassem no próprio corpo. Nem sabia ao certo o que beber. Já perdera os caprichos há muito. Um conjunto ausente de qualquer vaidade, repleto de tudo que não fosse amor próprio. Só uma falta de autoconfiança. O espartilho apertado, disfarçando uma barriga quase em fuga. A maquiagem borrada nos olhos, na boca, no nariz, na pele toda. A maneira como enxergava o nada e ficava a olhar, assim, perdidamente, como alguém que não tinha nada mais para ver. 

22 de março de 2015

Bolhas em azul

Disseram que seria como num sonho. Mergulhei, então, por entre visões oníricas, quando me afundei em gotas de azul. Como se não houvesse limites, nadei me esquecendo que não haveria ar. E assim, me fiz companhia de peixes, num cenário de elemento calcário. Quantos mil litros saíam dali? Pareciam brotar seres diversos e de muitos tamanhos. Todos eles saindo daquele buraco tão grande… Prendi a respiração, sem fôlego. Poderia soltar o ar ali mesmo e deixar a água entrar. Fechei os olhos e abri para ver de novo. O cenário permanecia. Água saindo de uma fenda, uma nascente azul de tantas belezas várias.

17 de março de 2015

Retratos em tons

Pernas se movem. Chinelos, sandálias, sapatos, tênis e pés descalços. Um misto de cores amarelas, vermelhas, azuis, pretas e verdes. Solas que se esbarram num chão de histórias. Tantos anos se passaram por pedras brancas e pretas, que já não são tão simples cores essas. E não são elas, por terem sido o chão de muitas outros tons, gestos e pés. Pisadas rudes, indecisas, leves, rápidas e lentas. Caminhar que se define por um ritmo disforme. O andar de um povo que vem de uma cidade branda, quando o ar não é cinza, mas azul púrpura.