23 de julho de 2013

O apanhador de sonhos

O menino correu atrás da borboleta, que voou para bem longe, até desaparecer. Viu aquele pontinho colorindo tão depois do olhar, que desejou viajar com ela, embora os pés, cansados, já desistissem de persegui-la. A cestinha, que seria a arma de captura, ficou inerte, inútil, em sua mão, enquanto ele a jogava no chão e desistia de ser caçador de borboletas.

Lembrou-se do pai falando sobre um tal de apanhador de sonhos. Mas isso é profissão? Ele perguntava. E o homem ria, porque achava o garoto muito engraçado. Era diferente das outras crianças, por indagar tanta coisa assim, mais que o comum. O menino não perguntava porquês, mas algo além. As suas questões eram sobre o que ninguém entendia, ou gostaria de saber. As interrogações ficavam ocultas, entretanto, quando a vergonha de não entender era maior do que a curiosidade aguda.
            Mas depois que largou a sua arma de crime de lado, o menino teve vontade de ser o tal do apanhador de sonhos. Mas o que seria isso? O que seria sonho, afinal? Ele devia ficar escondido atrás da lua, e quando as pessoas fechavam os olhos, vinha correndo, para ilustrar o escuro. Então como apanhá-los? Tinha que ficar acordado, só podia. Fingir que dormia. Resolveu fechar os olhos só um pouquinho, para assim tentar enganar o tal do sonho. Será que ele tem rosto de quê? Perguntava-se. Deve se parecido com uma fada, porque precisa ser muito rápido. Respondia a si, enquanto esperava ansioso por ele e pudesse finalmente apanhá-lo.
            E quando veio, estava preparado. Abriu os olhos e viu: um ser invisível. Mas como enxergava? Dizem que algumas pessoas percebem auras coloridas. Pois ele via uma coisa toda meio colorida e transparente, com gosto de fogo e cheiro de nuvem. O sonho quis escapar, mas ele o pegou no ar com o sono, e quando viu, sua mão brilhava! Criou asas de repente, enquanto elas iam batendo, batendo, até que saiu pela janela e foi indo na direção da lua. Ela era mesmo de queijo e teve que comer um pedaço, mas tinha gosto de pudim e cheiro de amor.
            Perguntou pra uma estrela, quantos sonhos existiam. Ela disse que havia quantos as pessoas quisessem, bastava fechar os olhos e um pouquinho de imaginação ajudava. E eu posso apanhar sonhos? O menino indagou, curioso, com medo de ter virado o criminoso da noite, por roubar aquelas coisas transparentes e coloridas.
            “Você pode ser o que quiser.”
            E quando voltou para a cama, desejou ser tanta coisa junta, que sonhou com todas elas e quando viu, já dormia há milhares de anos. Acordou em outro mundo. Uma das placas dizia que era a cidade dos sonhos. Estaria sonhando? 

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