Em algum momento da noite, eles se olharão, com olhos
rasos. Não se entendem ou leem, encaram-se numa melancolia de ausência. Pensarão,
provavelmente, em como poderia. E aí, refletiriam sobre como tudo deveria ter
sido, enquanto formulariam hipóteses do que dera errado. Trocariam culpas
mudas, e as compreenderiam pela forma como os olhos transmitem a falta e a
saudade.
Ah, eles pensam, de repente: como
seria bom viajar. Milhares de quilômetros para longe daquela casa. Estradas
esburacadas, ou lisas; barro ou asfalto; deserta ou movimentada. Bastaria que
fosse um caminho para bem longe, de forma que pudessem abrir as janelas e
deixar o vento entrar. E quando vissem, estariam com os cabelos emaranhados, os
olhos cansados. A noite permitiria, enfim, que parassem e novamente se
olhassem. Dormiriam abraçados, com o frio que chega à porta do carro. Sonhariam
sonhos juntos, transportados para um mesmo lugar, em sintonia. E ao acordarem, trocariam
saudade.Mas não viajam. Esbarram-se. Olham-se. Sem falas, apenas essa ausência de. Dormem juntos, mas longe. E no dia seguinte, esquecem-se da vontade de viajar. E não sonham. Dormem pesadamente sobre as toneladas da frustração.
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