12 de junho de 2013

Ponto.

Eu queria. O ponto interrompeu a frase, enquanto os lábios não se esbarravam, e tudo se resumia aos toques. Essa vontade de sentir. 
Mas você consegue?

O jeito como os braços ficam rígidos, a boca se abre e os olhos se fecham. Ignoram-se.
Eu consigo sentir repulsa. Vontade de prazer que não vinha... E onde ele estava? Nenhum deles sabia. O afeto desaparecera no ar, devia ter saído voando para um lugar aconchegante. Aquele quarto tinha cheiro de roupa suja. Tempo corrido. Erosão sentimental, sei lá. Um desgaste que não parece acabar nunca.
Deitaram-se lado a lado. O ofegar do outro como desculpa para o não falar. Esse refúgio mudo que não protegia ninguém. O calar espelhado no vento, inspirado na ausência do dizer. Calar que só sussurra ondas. E o que elas revelam? O abandono de ambos. Passos que se afastam sem fazer barulho, até que a distância só se mostra no além, quando as mãos não se tocam e se estranham. O íntimo tão desconhecido assim.
E ali em baixo, um menino sonhava com família e felicidade. Eles não sonham mais. Dormem pesados, esmagando um ao outro com a presença. Vontade de distância não revelada, repulsa que surge dessa necessidade de abandono. Mas não podem.
A incapacidade está naquela responsabilidade não dita, nesse medo da vida que criavam. Cadê o viver deles? Estava todo intrínseco no menino adormecido. Sentimento que explode, ódio que cresce.
Os dois, nus, sentem de repente vergonha do corpo já tão visto. Perda da entrega. Mãos que percorrem a própria pele e só. Deleite que surge nele, no explorar de si para si, na iminência de um prazer substituto.  Cobrem-se e se viram em direções opostas.
Eles queriam. O ponto interrompe a frase, enquanto os olhos se fecham em um sono profundo. O abrigo de um conviver tão pesado assim. Mas não sonham. Acordam continuando tudo o que passou, sem a menor dose de esperança.

Você consegue sentir?

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