Ela se confundia com o
vento, por desaparecer e voltar. Como um pêndulo, parecia gostar de se balançar
de um lado ao outro, repetitivamente, lançando um olhar oblíquo pelo caminho.
Nāo sentia náuseas, mas provocava.
Você sabe quem é a mulher
da janela?
O poeta perguntava a si e
aos outros, quando escrevia os poemas.
Nāo, ninguém a conhecia.
Viam-na apenas. E aquela beleza, ah! Devia ser atriz, modelo, aeromoça, sei lá.
Talvez até cantora, ou garçonete. Basta! Ela era o que os homens queriam. E
todos se masturbavam. Gemiam, pronunciavam um nome fictício.
Martha, Gisele, Mariana,
Isabel, Julia, Sara, Natalia, Carolina, Bruna, Suzana, Gabriela, Rafaela, Lia,
Luiza, Tamara, Renata, Bianca,...
Ela era todos e ninguém.
Trapezista, balançava-se entre a identidade e a ausência dela. E desaparecia.
Como gostava de evaporar. Era provável que desse uns mortais quando saía do
trapézio e aproveitava para dar um pulo no céu.
"Devia dançar com o
sol, talvez assim brilhasse com ele". O poeta escreveu.
Mas ninguém queria ouvir
suas histórias. Deve ser prostituta, nāo sei. Boa pra fazer programa.
"Cadê o romantismo?" O escritor perguntou. Nāo existia. Ele inventava.
Você sabe quem é a mulher
da janela?
Ela pinta balōes coloridos
na tela branca, e sai voando neles toda noite pela Turquia. Ela sonha em conhecer
a Turquia. Ela vive de sonhos e personagens.
Você não sabe quem é a
mulher da janela.
0 comentários:
Postar um comentário