7 de junho de 2013

A mulher da janela

Ela se confundia com o vento, por desaparecer e voltar. Como um pêndulo, parecia gostar de se balançar de um lado ao outro, repetitivamente, lançando um olhar oblíquo pelo caminho. Nāo sentia náuseas, mas provocava.

Você sabe quem é a mulher da janela?
O poeta perguntava a si e aos outros, quando escrevia os poemas.
Nāo, ninguém a conhecia. Viam-na apenas. E aquela beleza, ah! Devia ser atriz, modelo, aeromoça, sei lá. Talvez até cantora, ou garçonete. Basta! Ela era o que os homens queriam. E todos se masturbavam. Gemiam, pronunciavam um nome fictício.
Martha, Gisele, Mariana, Isabel, Julia, Sara, Natalia, Carolina, Bruna, Suzana, Gabriela, Rafaela, Lia, Luiza, Tamara, Renata, Bianca,...
Ela era todos e ninguém. Trapezista, balançava-se entre a identidade e a ausência dela. E desaparecia. Como gostava de evaporar. Era provável que desse uns mortais quando saía do trapézio e aproveitava para dar um pulo no céu.
"Devia dançar com o sol, talvez assim brilhasse com ele". O poeta escreveu.
Mas ninguém queria ouvir suas histórias. Deve ser prostituta, nāo sei. Boa pra fazer programa. "Cadê o romantismo?" O escritor perguntou. Nāo existia. Ele inventava.
Você sabe quem é a mulher da janela?
Ela pinta balōes coloridos na tela branca, e sai voando neles toda noite pela Turquia. Ela sonha em conhecer a Turquia. Ela vive de sonhos e personagens.

Você não sabe quem é a mulher da janela.

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