Pois houve um momento, entre o
anúncio e o silêncio, em que existiu uma certa esperança. Eles se levantaram,
torcendo pela realização de suas preces. E ao olharem para o médico, viram no
azul a cura almejada. No entanto, a expressão neutra, ausente de qualquer
sorriso, foi suficiente para fazer com que o abraço ficasse mais forte e as
mãos fossem dadas.
As reticências pairadas no ar, pontinhos
se separando para desenharem o significado daquela frase. Um aqui, outro
ali, linhas ligando-os, revelando os olhos fechados que nunca mais se abririam.
A pele quente, pronta a esfriar-se para não mais voltar a ter aquele rubor tão
característico. E ao verem o pequeno bebê inerte, não puderam acreditar. Um
tumor, meu Deus, um tumor. Como pôde ser tão injusto?
Culparam-se, devia ser genético, não
sabiam. Vai ver fizeram alguma coisa de errado. O acaso não servia, assim como
não lhes serviu para explicar o surgimento do universo. Eram desses que
gostavam de atribuir significados, não conseguiam pensar que às vezes as coisas
davam errado. Elas sempre deram tão certo. Até pensaram que seriam felizes para
sempre.
Mas o infinito durou pouco, maior do
que uns poucos momentos, menor do que a eternidade. Entraram em crise. Pararam
de sorrir, já não conseguiam chorar. Estavam engasgados. Depressão, os médicos
acusaram, vocês podem precisar de algum acompanhamento psiquiátrico. Os dois só
conseguiam ficar sem reação, encontrando-se com olhos mortos, murmurando
sílabas que não formavam qualquer palavra. Até que se divorciaram sem briga
alguma, libertaram-se do amor um do outro, sem assinar qualquer papel. Ele se
entregou aos botequins. Ela preferiu o precipício.
2 comentários:
"Ele se entregou aos botequins. Ela preferiu o precipício."
- Muito bom! Senti a dor aqui.
Um abraço.
Obrigada, André. Sempre bom ler os comentários. Leia quando puder :).
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