21 de abril de 2013

O infinito



       Pois houve um momento, entre o anúncio e o silêncio, em que existiu uma certa esperança. Eles se levantaram, torcendo pela realização de suas preces. E ao olharem para o médico, viram no azul a cura almejada. No entanto, a expressão neutra, ausente de qualquer sorriso, foi suficiente para fazer com que o abraço ficasse mais forte e as mãos fossem dadas.
            “Sinto muito, fizemos todo o possível...”
       As reticências pairadas no ar, pontinhos se separando para desenharem o significado daquela frase. Um aqui, outro ali, linhas ligando-os, revelando os olhos fechados que nunca mais se abririam. A pele quente, pronta a esfriar-se para não mais voltar a ter aquele rubor tão característico. E ao verem o pequeno bebê inerte, não puderam acreditar. Um tumor, meu Deus, um tumor. Como pôde ser tão injusto?
          Culparam-se, devia ser genético, não sabiam. Vai ver fizeram alguma coisa de errado. O acaso não servia, assim como não lhes serviu para explicar o surgimento do universo. Eram desses que gostavam de atribuir significados, não conseguiam pensar que às vezes as coisas davam errado. Elas sempre deram tão certo. Até pensaram que seriam felizes para sempre.
       Mas o infinito durou pouco, maior do que uns poucos momentos, menor do que a eternidade. Entraram em crise. Pararam de sorrir, já não conseguiam chorar. Estavam engasgados. Depressão, os médicos acusaram, vocês podem precisar de algum acompanhamento psiquiátrico. Os dois só conseguiam ficar sem reação, encontrando-se com olhos mortos, murmurando sílabas que não formavam qualquer palavra. Até que se divorciaram sem briga alguma, libertaram-se do amor um do outro, sem assinar qualquer papel. Ele se entregou aos botequins. Ela preferiu o precipício.

2 comentários:

André Foltran disse...

"Ele se entregou aos botequins. Ela preferiu o precipício."

- Muito bom! Senti a dor aqui.

Um abraço.

Bella Fowl disse...

Obrigada, André. Sempre bom ler os comentários. Leia quando puder :).

Postar um comentário