Antes de
tudo, há sempre aquelas perguntas:
Quanto tempo o tempo dura? Será que o amor
tem gosto? Os olhos veem a verdade? O áspero cheira a quê? A flor morre de
calor ou frio?
Depois, elas começam a ficar mais objetivas:
Será que demoro muito pra andar a pé pelo
mundo inteiro? Que horas você vem? Quantos segundos levo para cair do sétimo
andar?
A verdade é que eu sempre gostei de
questionários. Quando criança, caprichava nos porquês, uma dúvida mais criativa
do que a outra. Meus pais achavam engraçadinho, diziam que eu seria
inteligente, pois saberia de todas as respostas. Com o tempo, esse meu hábito
começou a ficar chato. Vez ou outra virava pra alguém e perguntava qualquer
coisa: As letras ocupam espaço?
Passei a guardá-las para mim, a gente aprende
a esconder a própria personalidade com o tempo, quando percebe que as pessoas
não ligam. Os humanos são mecânicos. Tão bichos quanto todos os animais. Só são
orgulhosos demais para perceber. Por que preferimos andar sobre duas patas,
quando dá para correr mais rápido com quatro?
Eu gostava de um jogo que passava na TV. Ele
era assim: Um ficava inventando pergunta para o outro, incansavelmente, até que
um deles não aguentasse e finalmente respondesse, abandonando todas as
divagações. As pessoas gostam de afirmar. Mentem, porque não conseguem admitir
a ignorância. Eu sou burra demais. Mas ninguém sabe disso, pois eu também sei
fingir.
Houve um dia em que fui para o deserto com
uns amigos meus, eles disseram que sempre quiseram conhecer um lugar sem água.
Achei aquilo meio estúpido. Era só você cavar e cavar, que com certeza acharia.
Mas aí fiquei me perguntando por quantos metros a pessoa teria que tentar até
encontrar alguma coisa. Ela com certeza morreria enterrada no próprio buraco.
Os rapazes me deram uma garrafa de água e disseram que seria legal se nos
separássemos, pra ver quanto tempo durávamos.
E aí fiquei sozinha, debaixo de um sol
quente, perto de pedras que pareciam propícias a fritar qualquer coisa. A água
esquentou e pensei que seria bom poupá-la, ou poderia acabar morrendo por ali.
As perguntas que vieram na minha cabeça foram, mais ou menos nessa ordem:
Quantos grãos de areia será que têm aqui? A noite no deserto é fria? Será que o
céu está sempre tão azul?
Depois, elas começaram a ficar mais
objetivas:
Quanto tempo demoro pra chegar a algum lugar
com água? Essas imagens ali da frente são verdadeiras, ou miragens? Cadê todo
mundo? A sede vai passar? Alguém vai vir me buscar? Eu vou morrer aqui?
Percebi no deserto que as perguntas conseguem
nos medir. Quanto mais objetivas, mais desesperados estamos. Acho que os homens
têm tendência a ficar mais desesperados a cada tempo que passa. Devem perceber
o tamanho e a inutilidade de cada um. Por isso que odeiam tanto as perguntas e
preferem responder. Acham que as afirmações os livrará da ignorância absoluta.
Eu continuo sendo muito burra. Alguns preferem
me chamar de doida.
Mas será que os loucos veem a verdade e são
assim por causa disso?
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