Ele
disse que entendeu quando ela falou que não ia dar certo, era melhor
terminarem. Ele apenas balançou a cabeça, gesto mudo, expressão medonha. Nesse
momento a mulher percebeu o que todos a diziam sobre se parecer com um
psicopata. Pois um calafrio invadiu, os pelos se arrepiaram, vontade de sair de
perto. Talvez fosse uma boa ideia se levantar. Averiguou a segurança. Nenhuma
mudança na face. Impassível.
Arrastou a cadeira, então,
demonstrando o seu intento. A mão sobre a mesa, provocando o impulso para trás.
O arrastar da perna da cadeira no chão, anulando o silêncio. Ele a pegou pela
mão, atenuado, os olhos rabiscando a pena no ar. Pena daquela coisa toda, do
sofrimento agora aparente. Pena de deixá-lo sozinho ali. Os dedos dele sobre as
cicatrizes da mão dela. Batidas de amor, ele dizia.
E ela... Bem, ela só não conseguia
sentir ódio. Seria pecado demais amar alguém? Ou idolatrar, quem sabe? Tão
cruel para o corpo e a alma, os gestos confundiam-se em bipolaridade. Uma
vontade de ir e não. Pensou que talvez pudesse, quem sabe, ficar.
É crime o que você fez, Roberto.
Repetiu o que a amiga lhe disse. Um criminoso. Psicopata. A palavra dividida.
PSI-CO-PA-TA. Sem significado algum. Não seriam esses aqueles inumanos dos
filmes? Mas ele era tão gentil!
Levantou-se, por fim. Posicionou-se
de costas a ele, pronta ao abandono. Os braços a fisgaram firme em um abraço
sem força. A moça ficou, vontade de ser amada. Talvez gostasse de apanhar por poder existir por um tempo. Era dessas meio vazias de vida, perspectiva nenhuma. Ai,
Roberto... A barba dele roçando no rosto dela, o aperto do abraço ficando mais
forte, a mordida que deixa marcas.
Sobre a mesa, pratos de lado, caindo
ao chão, cacos pisados, cinto, meia, calça, blusa, cueca por aí. Ele se despiu primeiro. As partes dela sendo tocadas, agredidas, acariciadas. A dor, o
prazer, uma mistura que ia transformando-a em uma cicatriz humana. O pedido
para parar que não era atendido nunca. Roberto, você está me... Silêncio quando
ele a beijou. Dedos firmes. Partes tocadas, os dois agora nus, juntos. A morte
certa nessa última vez, quando o aperto no pescoço foi forte demais.
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