3 de abril de 2013

Cacos sobre o chão



            Ele disse que entendeu quando ela falou que não ia dar certo, era melhor terminarem. Ele apenas balançou a cabeça, gesto mudo, expressão medonha. Nesse momento a mulher percebeu o que todos a diziam sobre se parecer com um psicopata. Pois um calafrio invadiu, os pelos se arrepiaram, vontade de sair de perto. Talvez fosse uma boa ideia se levantar. Averiguou a segurança. Nenhuma mudança na face. Impassível.


            Arrastou a cadeira, então, demonstrando o seu intento. A mão sobre a mesa, provocando o impulso para trás. O arrastar da perna da cadeira no chão, anulando o silêncio. Ele a pegou pela mão, atenuado, os olhos rabiscando a pena no ar. Pena daquela coisa toda, do sofrimento agora aparente. Pena de deixá-lo sozinho ali. Os dedos dele sobre as cicatrizes da mão dela. Batidas de amor, ele dizia.
            E ela... Bem, ela só não conseguia sentir ódio. Seria pecado demais amar alguém? Ou idolatrar, quem sabe? Tão cruel para o corpo e a alma, os gestos confundiam-se em bipolaridade. Uma vontade de ir e não. Pensou que talvez pudesse, quem sabe, ficar.
            É crime o que você fez, Roberto. Repetiu o que a amiga lhe disse. Um criminoso. Psicopata. A palavra dividida. PSI-CO-PA-TA. Sem significado algum. Não seriam esses aqueles inumanos dos filmes? Mas ele era tão gentil!
            Levantou-se, por fim. Posicionou-se de costas a ele, pronta ao abandono. Os braços a fisgaram firme em um abraço sem força. A moça ficou, vontade de ser amada. Talvez gostasse de apanhar por poder existir por um tempo. Era dessas meio vazias de vida, perspectiva nenhuma. Ai, Roberto... A barba dele roçando no rosto dela, o aperto do abraço ficando mais forte, a mordida que deixa marcas.
            Sobre a mesa, pratos de lado, caindo ao chão, cacos pisados, cinto, meia, calça, blusa, cueca por aí. Ele se despiu primeiro. As partes dela sendo tocadas, agredidas, acariciadas. A dor, o prazer, uma mistura que ia transformando-a em uma cicatriz humana. O pedido para parar que não era atendido nunca. Roberto, você está me... Silêncio quando ele a beijou. Dedos firmes. Partes tocadas, os dois agora nus, juntos. A morte certa nessa última vez, quando o aperto no pescoço foi forte demais. 

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