No
princípio, havia cinzas espalhadas pelo chão, pontas e um isqueiro. Os pés
passavam por entre aquela negritude, sujando-se daquela fumaça solidificada,
sujando-se com o pensamento que permeou todos aqueles tragos, os olhos
vermelhos, devaneios que a levavam para bem mais longe do que já estava. E ela,
então, sentava-se em uma cadeira, olhava para o horizonte e imaginava um pouco
mais. Imaginava a si e aos outros. Criava tanta coisa junta, que atingia ao
nada por não conseguir colocar tudo em ordem.
Ela estava perdida.
Ela estava... Estava e não era. Só
queria. E imaginava, imaginava, imaginava... O quê? Não sabia. Um lugar,
objetos, pessoas, bichos, nuvens, mar...
O mar se transformava logo em amar e
ela se afogava nele, molhava-se com água vermelha e azul. Molhava-se com
pedacinhos de papel que não eram atingidos por aquelas gotas. Eles queriam
mesmo era sobreviver, porque naquelas pequenas partes de celulose, ela
escrevera muito.
Mas não desvendava as palavras. Estavam borrados. E ela queria tanto lê-las...
Mas não desvendava as palavras. Estavam borrados. E ela queria tanto lê-las...
Quando a moça ainda era criança, a
sua mãe lhe disse que o mundo dos livros era o melhor jeito de viajar. A
garota, acreditando, passou a ler tanto, que se esquecia de comer. Viveu assim
a infância, mas a inocência se perdeu com a idade. Descobriu que o melhor jeito
de se transportar para além era através das drogas. Com uma mistura de verde,
branco e pequenas bolinhas, transcendeu a si mesma e aos outros. Foi para
longe, para além do limite humano, esqueceu da razão, porque não precisava
dela.
Queimou assim toda a magia, ao se
enfeitiçar com uma diferente. Enfeitiçou-se com o branco que ocupava a vista,
com a cabeça pesada para não conseguir pensar. Deitou nas cinzas, sujando-se
com a cor do mundo.
E se ela lesse as suas palavras ou
de outros, talvez pudesse ver o diferente. Talvez pudesse...
Mas os papéis estavam borrados.
Encontrou alguns em branco e tentou
escrever. Dizem que é o maior vício. Ela sabia disso e esgotou a tinta ao criar
um mundo que era só dela.
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