23 de dezembro de 2012

Apesar do apesar


            Encontraram-se em uma lanchonete. A garota, vestida de maneira simples, sorria por aliviar um pouco da saudade. Já não se viam há muito e qualquer encontro lhe era suficiente. Conversavam sobre tudo, até que, sem limites pelo tempo ou pelo espaço, decidiram ir... Nem sabiam para onde. “Vamos achar um lugar bom.” Diziam. Porque eles queriam era ficar mais um pouco. A verdade é que eles desejavam estar. Entre eles e os outros. E esses outros podiam ficar invisíveis, porque não importavam.

            Não desejavam se preocupar com o apesar do amanhã, por exemplo, que era, por sinal, uma véspera de natal. Os garotos, na verdade, tinham outros objetivos. Pensavam neles e no próximo espaço que ocupariam. Imaginavam os futuros em que seriam protagonistas. Falavam sobre a ausência, porque a conversa não tinha conteúdo e com isso, tornava-se essencial, por se esquecerem do que os incomodava. Lembravam mesmo era do viver, ali, dentro daquele carro que não tinha destino.
O pequeno fusca subia as ladeiras, descia outras, “estamos fazendo praticamente um rali aqui, nessas ribanceiras”, dizia a garota, rindo-se logo em seguida com os outros, que concordavam sacudidos. Todos felizes com as luzes de natal, com os piscares da cidade. Viviam através dos outros, mas entre todos, porque mesmo com a vontade de viver além do apesar, ficavam espantados com ele. Maravilhavam-se com o apesar do dia acabar, ao olharem pisca piscas tão coloridos...
            Apesar de nós, existem os males. A garota de vestido simples pensou, quando um moço pediu dinheiro. Mas ela logo se esqueceu do apesar, porque, naquele momento, queria mesmo era o “nós”. Queria se afundar naquela companhia de gente que sabe o que é rir. E por um momento, ela pensou que não queria ir embora, ela era dessas que sempre partia. Mas a menina sabia que esse pensamento era momentâneo, pois existia o apesar de nós, o apesar da cidade. Então, ao considerar tudo, ela desejaria a estrada, almejaria o futuro que ainda não viveu, sonharia tão alto, que se esqueceria daquela mágica quase natal.
            No entanto, ela jurou para si mesma, que no momento da decisão, se esqueceria do apesar de mim e se lembraria dela mesma e de suas vontades. Pensaria no coração e no que realmente queria. Apesar dela, havia as suas vontades, havia o seu sentimento. Apesar dela, havia tanta coisa, que ficava difícil decidir.
            A garota, diante de tanta coisa junta dentro da mente, viu uma figura do Papai Noel e pensou que apesar de tudo estar tão difícil, apesar de ter que decidir tanto, haveria ainda assim, uma ceia para encontrar a todos que amava. E assim adormeceu naquele dia 23 de Dezembro que, na correria do relógio, já se transformara véspera de Natal.
            Adormeceu pensando que apesar do choro engasgado, sempre havia com o que rir. E ela gargalhou ao se lembrar dos amigos que, perdidos dentro de um fusca, quase se perderam da cidade. 

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