Encontraram-se
em uma lanchonete. A garota, vestida de maneira simples, sorria por aliviar um
pouco da saudade. Já não se viam há muito e qualquer encontro lhe era
suficiente. Conversavam sobre tudo, até que, sem limites pelo tempo ou pelo
espaço, decidiram ir... Nem sabiam para onde. “Vamos achar um lugar bom.”
Diziam. Porque eles queriam era ficar mais um pouco. A verdade é que eles
desejavam estar. Entre eles e os outros. E esses outros podiam ficar
invisíveis, porque não importavam.
Não desejavam se preocupar com o
apesar do amanhã, por exemplo, que era, por sinal, uma véspera de natal. Os garotos,
na verdade, tinham outros objetivos. Pensavam neles e no próximo espaço que
ocupariam. Imaginavam os futuros em que seriam protagonistas. Falavam sobre a
ausência, porque a conversa não tinha conteúdo e com isso, tornava-se
essencial, por se esquecerem do que os incomodava. Lembravam mesmo era do
viver, ali, dentro daquele carro que não tinha destino.
O pequeno fusca subia as ladeiras, descia outras, “estamos
fazendo praticamente um rali aqui, nessas ribanceiras”, dizia a garota,
rindo-se logo em seguida com os outros, que concordavam sacudidos. Todos felizes
com as luzes de natal, com os piscares da cidade. Viviam através dos outros,
mas entre todos, porque mesmo com a vontade de viver além do apesar, ficavam
espantados com ele. Maravilhavam-se com o apesar do dia acabar, ao olharem
pisca piscas tão coloridos...
Apesar
de nós, existem os males. A garota de vestido simples pensou, quando um
moço pediu dinheiro. Mas ela logo se esqueceu do apesar, porque, naquele
momento, queria mesmo era o “nós”. Queria se afundar naquela companhia de gente
que sabe o que é rir. E por um momento, ela pensou que não queria ir embora, ela
era dessas que sempre partia. Mas a menina sabia que esse pensamento era
momentâneo, pois existia o apesar de nós, o apesar da cidade. Então, ao
considerar tudo, ela desejaria a estrada, almejaria o futuro que ainda não
viveu, sonharia tão alto, que se esqueceria daquela mágica quase natal.
No entanto, ela jurou para si mesma,
que no momento da decisão, se esqueceria do apesar de mim e se lembraria dela
mesma e de suas vontades. Pensaria no coração e no que realmente queria. Apesar
dela, havia as suas vontades, havia o seu sentimento. Apesar dela, havia tanta
coisa, que ficava difícil decidir.
A garota, diante de tanta coisa
junta dentro da mente, viu uma figura do Papai Noel e pensou que apesar de tudo
estar tão difícil, apesar de ter que decidir tanto, haveria ainda assim, uma
ceia para encontrar a todos que amava. E assim adormeceu naquele dia 23 de
Dezembro que, na correria do relógio, já se transformara véspera de Natal.
Adormeceu pensando que apesar do
choro engasgado, sempre havia com o que rir. E ela gargalhou ao se lembrar dos
amigos que, perdidos dentro de um fusca, quase se perderam da cidade.
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