11 de dezembro de 2012

A primeira falta

A sua mãe devia estar errada. A outra casa, não importava o quão grande fosse, não poderia ser melhor. O menino pegava em seus objetos e os separava entre “doação” e “mudança”. Olhava para cada um dos brinquedos, tendo a dificuldade de se desapegar daqueles tantos coloridos. Enquanto isso, o pai ficava encostado na porta, opinando sobre quais deveriam ser deixados de lado. O pobre garoto observava confuso a sua infinidade de coisas e não chorava, porque não entendia bem o que acontecia. Era a primeira vez que tivera que se despedir. Nessa ocasião, aprendeu que tudo um dia vai. E ele também ia para um novo lugar.


            Sonhou com um avião indo e indo... para onde? Viu portas, fechaduras e chaves. Viu tanta gente sem rosto, tanta gente desconhecida, que acordou num susto, quase como se tivesse caído do inconsciente. Pegou o urso, que ainda não estava dentro de caixas, e olhou para o quarto vazio. Cadê todo mundo? Não viu. E ele chorou. Porque descobriu a ausência. E o achar da falta o fez ficar mais descrente e crescido, mas o rapaz não precisava desse costume. Ele desejava mesmo era ficar com mente de criança, podendo viajar e não dizer adeus a ninguém. Entendeu o Peter Pan. O menino queria mesmo era eternizar tudo. Já sentia saudade...
            Cadê aquele ontem? Foi embora lá atrás, caminhou junto com as suas pelúcias e o velho cachorro Mago. Ah... Como desejava aquelas patas e a língua lambendo o seu rosto, sem parar mais. E aí a mãe viria para brigar. “Tira esse cachorro daí!” E o rapaz continuaria com o rosto afundado nos pelos, enquanto beijava, beijava e beijava... Diria então um “Eu te amo” sincero, porque bicho sabe ensinar o que é amor. E o animal latiria aquele latido que mais parece risada, porque sentia cócegas e achava tudo muito divertido. E era.
            O pai chegou ao quarto quando escutou os soluços. Perguntou o que acontecia e o menino só respondeu “Eu quero de volta, papai.” A frase abstrata tão concreta. O homem só pôde mesmo foi abraçá-lo muito forte, para assim aliviar parte da dor. Mas o garoto já conhecia o vazio e já não era o mesmo. O ontem já tinha ido e agora vinha era um outro amanhã. Tudo muito novo. E a novidade assustava, porque mesmo trazendo novos presentes, levava outros...
            Cadê aquele ontem?
            O garoto sonhou com o passado. Viu flores, borboletas e jardins. Viu foi o colorido. E percebeu, então, que haveria sempre as lembranças. E que elas viessem nas noites de verão. 

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