23 de novembro de 2012

Eu e você



Nós nos encontrávamos muito. Íamos à praia e caminhávamos, entrávamos nas pedras de pés descalços, desafiando aquela superfície afiada que queria mesmo era nos cortar ao meio. Deviam é tentar nos separar. Mas nós sentávamos e olhávamos juntos para o horizonte, vendo aquela linha bem além de tudo, imaginando o futuro e um barco que caminharia para ele, lentamente, até encontrar a maior felicidade de todas. Nós estaríamos dentro dele, de mãos dadas, com um sorriso estampado no rosto e essa vontade do melhor.
            Acho que no final das contas, as pedras podem não ter nos separado, mas o tempo se encarregou disso. Fomos nos afastando. Eu e você. E antes que pudéssemos estender a mão mais uma vez para ver a linha lá longe, já não trocávamos palavras sinceras. Apenas aquelas frias, que jogamos em um diálogo com um estranho qualquer. Ficamos nessa de resolver esquecer.
            O engraçado é que sentíamos saudade. Vez ou outra, entre distantes tantos tempos, ligávamos e dizíamos o engasgado. Aquela coisa que ficava bem afundada no peito diante dessa ausência... Porque mesmo deixando tudo ir embora, tentávamos. E nos amávamos. Eu e você.
            Mas as coisas mudam. Fomos... Para bem longe um do outro. Não falávamos, apenas insistíamos nessa permanência de um calar profundo, que causava um aperto no peito. Como poderia? Eu até tentava ver a linha lá no horizonte, mas não via barco, não via futuro. Eu precisava mesmo é da sua poesia, dessa sua calma, essa coisa que você dizia ou que permanecia no seu silêncio. Essa que me fazia bem melhor... Mas nos afastamos.
            E hoje, eu tenho mesmo é saudade de sentir saudade. Não tem amor. Tem é esse calar que se apossa de tudo, esse pesar que eu não sei de onde veio. Posso culpar o tempo, mas será o culpado? Acho que é mania de tentar amenizar o grotesco. A verdade foi que a gente se apagou. 

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