Nós nos encontrávamos muito. Íamos à praia e
caminhávamos, entrávamos nas pedras de pés descalços, desafiando aquela
superfície afiada que queria mesmo era nos cortar ao meio. Deviam é tentar
nos separar. Mas nós sentávamos e olhávamos juntos para o horizonte, vendo
aquela linha bem além de tudo, imaginando o futuro e um barco que caminharia
para ele, lentamente, até encontrar a maior felicidade de todas. Nós estaríamos
dentro dele, de mãos dadas, com um sorriso estampado no rosto e essa vontade do
melhor.
O engraçado é que sentíamos
saudade. Vez ou outra, entre distantes tantos tempos, ligávamos e dizíamos o engasgado.
Aquela coisa que ficava bem afundada no peito diante dessa ausência... Porque
mesmo deixando tudo ir embora, tentávamos. E nos amávamos. Eu e você.
Mas as coisas mudam. Fomos... Para
bem longe um do outro. Não falávamos, apenas insistíamos nessa permanência de um
calar profundo, que causava um aperto no peito. Como poderia? Eu até tentava
ver a linha lá no horizonte, mas não via barco, não via futuro. Eu precisava
mesmo é da sua poesia, dessa sua calma, essa coisa que você dizia ou que permanecia
no seu silêncio. Essa que me fazia bem melhor... Mas nos afastamos.
E hoje, eu tenho mesmo é saudade de
sentir saudade. Não tem amor. Tem é esse calar que se apossa de tudo, esse
pesar que eu não sei de onde veio. Posso culpar o tempo, mas será o culpado?
Acho que é mania de tentar amenizar o grotesco. A verdade foi que a gente se
apagou.
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