29 de outubro de 2012

O equilibrista


                Dez, vinte, cinquenta, sei lá... Nunca gostou muito da tal matemática. E de qualquer maneira, a altura não importava. Preocupava-se mais com a possibilidade de cair no infinito. Se isso acontecesse, aproveitaria o momento. Fingiria que se tratava de um mergulho no concreto. Faria até mesmo saltos mortais seguidos, sentindo a brisa, e tudo. Não olhava para baixo, concentração total. Segurava a vara e equilibrava-se naquela corda bamba tão segura em baixo dos seus pés, que parecia trapaça. Era como se estivesse em casa, em seu singelo treinamento. Andando por cima da corda entre uma árvore e outra. Mas estava mesmo era nos Estados Unidos, brincando no World Trade Center. E o nome do prédio traduzia o seu sentimento. Era como se estivesse em cima do mundo, tamanha a altura. De início, ficou meio acanhado, morto de medo. No entanto, depois de reconhecer que tudo estava bem, caminhou de um lado ao outro como num desfile. Alguns guardas se amontoavam na grade, exigindo a sua saída. “You can’t do that, man. Come on. We are gonna send an airplane to take you there.” Mas ele ignorava, só mesmo sorrindo. Ameaçava chegar perto, mas logo voltava, iniciando um novo percurso até o outro lado.

                Lá em baixo, as pessoas se amontoavam uma por cima das outras. A imprensa já tomava o seu lugar, fazendo hipóteses sobre quem seria aquele louco. Mas no fundo, mesmo com o susto, todos estavam mesmo abismados com aquele show. Porque não era todo dia que tinham um espetáculo de tamanha amplitude. Era como um presente. As pessoas, mesmo apressadas e atrasadas, paravam para ver. De repente, todos se sentiram livres de qualquer tipo de coisa que fosse. Uma paz pairava sobre um país dominado pelo medo. Porque em um mundo de tamanha beleza, não haveria perigo. O sonho, de repente, parecia possível. O céu até se abriu num sol desses quentes, só para iluminar ainda mais aquele jovem equilibrista, que arriscava a vida pela vontade de andar no ar. Mas fosse ele louco ou não, nem importava. Porque no final das contas, tudo valeria a pena. Até com um final trágico de um mergulho no concreto, o homem iria mesmo era se sentir feliz.
                Depois de mais ou menos uma hora, saiu. Agradeceu ao público lá de baixo, sem saber se estava sendo visto ou não. Acreditava que sim. Desceu as escadas, não falou com ninguém. Nem pensou nos amigos que estavam em estado de choque, perplexos com o fato de tudo ter dado certo. Chegou à multidão, e uma moça se ofereceu, querendo amá-lo por uma noite. O rapaz tinha uma mulher, mas não se lembrou disso. Não se tratava de traição, mas de liberdade. E ela compreenderia, sabia bem disso. Era uma dessas moças que entendiam tudo.
                E quando saíram, de mãos dadas, o homem ainda estava meio abismado, sem saber muito bem o que fazer com aquela felicidade toda. Resolveu, então, não pensar. Só viveu. E percebeu, naquela hora, que ele se equilibrara diante do mundo, zombando dos absurdos proibidos. Porque, mesmo que por apenas um minuto, nada pareceu impossível. E se sentiu tão livre, que amou como se não houvesse amanhã. Poderia até cair no abismo, sei lá. Poderia acontecer o que fosse. Mas aproveitaria o momento.

1 comentários:

António Je. Batalha disse...

Meu nome é António Batalha, estive a ver e ler algumas coisas de seu blog, achei-o muito bom, e espero vir aqui mais vezes. Meu desejo é que continue a fazer o seu melhor, dando-nos boas mensagens.
Tenho um blog Peregrino e servo, se desejar visitar ia deixar-me muito honrado.
Ps. Se desejar seguir meu blog será uma honra ter voce entre meus amigos virtuais, decerto irei retribuir com muito prazer. Siga de forma que possa encontrar o seu blog.
Deixo a minha benção e a paz de Jesus.

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