20 de outubro de 2012

A moça e o mosquito


Num dia desses, o mosquito achou uma menina bem bonita. Disse a si mesmo que ignoraria aos seus instintos. Não pararia para pensar no calor que iluminava os seus olhos e o fisgava para que arrancasse o sangue. Só chegaria perto se fosse para beijá-la nos lábios. Só chegaria perto se fosse correspondido. Ficou voando de um lado ao outro. Visitava pratos culinários saborosos, aprovando logo a cozinheira que escolhera para si. Tentava não soltar seus zumbidos, porque tinha medo de que soassem como assobios. Preferia esperar o momento certo.


            Já era noite e a campainha tocou. Ficou pensando em quem seria. Talvez se tratasse de uma amiga... Mas surpreendeu-se quando um homem entrou trazendo consigo rosas vermelhas. Eram muito cheirosas, o que desagradou ainda mais ao mosquito, mas o pequeno ficou quieto, firme em seu posto. Pousou em um móvel desses altos, cansado de voar e com medo de cair por conta de qualquer susto que pudesse vir a sofrer.
            O casal se sentou, tomando vinho e tendo uma bela refeição, com direito a pernil e a sobremesa. Quando começaram a trocar indiretas, e uma música passou a auxiliar no processo, o mosquito não se aguentou. Resolveu, como um macho, mostrar que dominava o território. Passou a voar por entre os dois pratos, ameaçando pousar, mas logo se desviando das mãos incomodadas. Ele rapidamente trocava o alvo, pousava na perna nua do homem e o picava, arrancando coceiras e desatenção. Ria-se por dentro, pensando que atrapalhava qualquer coisa.
            Houve um momento, no entanto, em que o homem inclinou-se sobre a mesa para beijar a bela moça. A pobre mosca não se aguentou. Quis picar a bunda, mas não dava. Então resolveu fazer um pouso na testa, interrompendo o beijo dos dois. “É esse maldito mosquito”, o homem ia dizendo, enquanto tampava a vermelhidão. A mulher, no entanto, não foi tão compreensiva quanto o esperado. Alegou que não dava mais certo. Só podia se tratar de um sinal. Eles não poderiam mais ficar juntos. Aquilo tudo se tratara de um engano.
            O homem, então, saiu de casa, levando consigo as rosas que a mulher recusou. A música instrumental foi substituída por algo mais depressivo e a moça se pôs a chorar, desiludida com essas coisas todas do amor. Por que tudo tinha que ser tão complicado? Perguntava-se. E o mosquito, também insatisfeito, tentava zumbir que estava ao lado dela, e que tudo daria certo. Ele poderia até levá-la para voar. Não era romântico? Mas a moça não entendia o idioma do mosquito e continuou a chorar e a chorar. 

0 comentários:

Postar um comentário