13 de outubro de 2012

A avó e a neta


Ela tinha uns cabelos brancos, desses curtos, e um sorriso fixo no rosto. Tricotava, falando sobre os tios, a prima ou os filhos. “O Rafael está na Espanha, ficou sabendo?” E começava a dar a notícia, dizendo os detalhes todos. A neta escutava quieta, fisgada pelos contos aumentados e pela escritora que falava livros por já não mais escrever.

Os olhos podiam estar até ruins, mas as histórias policiais ainda assim pairavam sobre a cabeceira. E a teimosa também não parava de fazer os presentinhos para os netos. “Essa meia aqui é para o Diego” Dizia, orgulhosa. “Vai fazer muito frio nesse inverno.”
            Quando os assuntos familiares acabavam, emendava logo na política internacional. “A crise da Grécia, heim? Viu as medidas de austeridade?” E a neta respondia tímida, que não sabia de nada. “Ah, mas você tem que ler jornal, minha família. Saber do mundo!” A verdade é que a menina não lia por desejar escutar os contos aumentados do noticiário. Porque tudo na boca daquela senhora virava literatura. Queria mesmo era ouvir as histórias. Recordava-se de que na infância ia dormir e a dona sentava-se ao seu lado, não tardando a contar as narrativas dos animais falantes.
            A menina chegava à casa da avó no mesmo horário da quarta-feira. Levava um filme policial e na maioria das vezes dormia no meio da trama. Não tinha lá muita paciência para as histórias de ação. Preferia mesmo era uma coisa mais leve, sem muitos tiros. Sem nada muito para pensar. No final das contas, ia à casa da avó para ter mesmo era essa companhia boa. Tinha saudade da infância e das histórias dos animais falantes.
           
 Dedicado à minha avó, Renee.

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