Ela
tinha uns cabelos brancos, desses curtos, e um sorriso fixo no rosto.
Tricotava, falando sobre os tios, a prima ou os filhos. “O Rafael está na
Espanha, ficou sabendo?” E começava a dar a notícia, dizendo os detalhes todos.
A neta escutava quieta, fisgada pelos contos aumentados e pela escritora que
falava livros por já não mais escrever.
Os
olhos podiam estar até ruins, mas as histórias policiais ainda assim pairavam
sobre a cabeceira. E a teimosa também não parava de fazer os presentinhos para
os netos. “Essa meia aqui é para o Diego” Dizia, orgulhosa. “Vai fazer muito
frio nesse inverno.”
Quando os assuntos familiares acabavam, emendava logo na
política internacional. “A crise da Grécia, heim? Viu as medidas de austeridade?”
E a neta respondia tímida, que não sabia de nada. “Ah, mas você tem que ler
jornal, minha família. Saber do mundo!” A verdade é que a menina não lia por
desejar escutar os contos aumentados do noticiário. Porque tudo na boca daquela
senhora virava literatura. Queria mesmo era ouvir as histórias. Recordava-se de
que na infância ia dormir e a dona sentava-se ao seu lado, não tardando a contar
as narrativas dos animais falantes.
A menina chegava à casa da avó no mesmo horário da
quarta-feira. Levava um filme policial e na maioria das vezes dormia no meio da
trama. Não tinha lá muita paciência para as histórias de ação. Preferia mesmo
era uma coisa mais leve, sem muitos tiros. Sem nada muito para pensar. No final
das contas, ia à casa da avó para ter mesmo era essa companhia boa. Tinha
saudade da infância e das histórias dos animais falantes.
Dedicado
à minha avó, Renee.
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