7 de janeiro de 2012

O nosso adeus

Anormal. O tipo de coisa que eu nunca imaginava pela qual ia passar. Meu coração batia como uma bomba relógio prestes a explodir. Em caso de estouro, meus sentimentos seriam liberados, colocando em risco a vida de todos à minha volta. Armas apontadas, palavras ameaçadoras e rostos mascarados. Um sotaque carioca arrastado, daquele jeito malandro que consegue colocar desespero em qualquer vítima de assalto. Éramos reféns. Doze no total. Um número bem simbólico, embora eu não conseguisse encontrar qualquer poesia no acontecimento.




— Mãos onde eu possa ver. Não quero ninguém morto. Hoje é um dia muito especial para mim. Vou ficar rico!


Atirou para cima, e pude perceber o estardalhaço do lado de fora. Policiais cercavam o local, comunicavam-se por rádio e não pareciam ter a menor ideia do que fazer. Estávamos perdidos. Segurei a mão de Laura com firmeza e a abracei forte. A única coisa que podia fazer era transmitir segurança, mesmo não tendo muita.

Tínhamos assinado o divórcio dois dias antes. Concordáramos em dividir as economias que estavam no banco. Devido a isso, viemos juntos uma última vez, com o objetivo de realizar a transferência para as nossas novas contas. Um ar gélido imperava entre nós. Ela me odiava, porque ainda guardava rancor da traição. E eu só podia sentir aquela pesar mudo, de quem não tinha o direito de reclamar, por ter sido a fonte do erro. Nem disse bom dia, sentou-se em frente ao gerente, e com aquele ar de empresária bem sucedida pelo qual eu tinha me apaixonado anos antes, disse que tinha que resolver aquilo logo, porque teria uma reunião com um cliente em seguida. Sentei-me ao seu lado, sem dizer nada, e esperei que ela resolvesse a coisa toda, como sempre. Ainda estava meio desacostumado com aquela coisa toda de solteiro, porque era sempre a Laura que cuidava de tudo.

Ela também apertava a minha mão. Era possível ver as lágrimas ameaçando descer por seus olhos. Frágil, na primeira vez na vida. Provavelmente pensava em sua mãe ou no pai, não havia mais ninguém. Não havíamos tido filho, porque acabáramos enrolando o tempo, deixando que meses e anos se passassem após o nosso casamento. E ao final, tudo o que tínhamos construído juntos fora um fundo de aposentadoria no banco. Agora estava dividido, desmembrado. Não havia mais qualquer ligação entre nós. A única coisa em comum era o passado. O bom e velho anterior ao presente.


— Agora, meus queridos reféns. Quero que todos saiam desse banco, em fila! Façam o favor de distrair os policiais.


Uma ironia. Falava conosco como se fôssemos crianças. Escutei uma explosão no fundo do banco, e todos os criminosos saindo, como se não passasse de um dia qualquer. Do jeito que a justiça do Brasil funcionava, era bem provável que o dinheiro fosse ser todo gasto, e os assaltantes nunca descobertos.


Saímos de mãos dadas, e quando estávamos em segurança, ela se soltou. Olhei-a pelo canto do olho e de repente não pude segurar. Toda aquela tensão. Sentimentos guardados durante muito tempo. A aceitação muda de uma separação decretada por apenas um dos lados. O amor adormecido, aquele cheio de mágoa, por ser o responsável pela dor. A culpa. Tudo se resumia àquilo. Culpa por ter cometido um erro tão imbecil, com uma vagabunda qualquer.


— Laura...


O nome. O tom. Suficiente para que ela soubesse do que se tratava. Mas não era um filme ou um livro de romance, em que o trauma era suficiente para fazer com que houvesse mudança de ideia. A pasta preta na mão. O mesmo ar decidido. Nenhum resquício de fragilidade. A mulher pela qual eu havia me apaixonado. 

— Está tudo resolvido, Rafael. Acho que não precisamos nos encontrar novamente. Não há mais nada que justifique encontros ou tentativas de desculpas. Acabou.


Um último olhar de ódio. E a olhei andando, afastando-se de mim para nunca mais voltar. O andar decidido. Seu destino era uma reunião de importância, que provavelmente geraria um belo lucro para a empresa e uma promoção que a faria mudar de país. Sempre quisera tal emprego, mas nunca aceitara por querer ficar perto de mim. Agora não havia quem a prendesse. Iria para a Europa. Se eu tivesse a sorte de encontrá-la, somente em férias, e era bem provável que a visse com um novo homem. Bem melhor do que eu.


— Adeus.


Coloquei as mãos nos bolsos da calça jeans. A blusa amarrotada e suja de tinta. O oposto dela. Eu não tinha um trabalho importante. Apenas dava aulas de desenho para crianças e mantinha um ateliê próprio. O tipo de artista pobre, que se contentava com pouca coisa. O irresponsável crescidinho, de trinta anos, e nenhuma carga nas costas. Vai ver não se tratasse apenas da traição, e sim do estilo de vida. O nosso relacionamento estava se afundando há muito tempo, ao mesmo tempo em que ela sozinha prosperava cada vez mais. O problema é que eu ainda a amava. Daquele jeito que a gente não pode medir. Do jeito que faz com que haja uma dor insuportável ao ver que não haverá volta. Acabou.

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