22 de dezembro de 2011

Tudo o que você despreza

              Você saiu pela porta da frente. Lembro disso. Eu, sentada na sala, depois de uma discussão e visita com duração de cinco minutos. Suficiente para o estardalhaço. Bateu o pé, falou palavrões, derrubou o porta-retrato sem querer, caminhou na direção da saída, bateu a porta e foi embora. E eu fiquei meio estática. Por um momento tive a certeza de que fora a coisa certa. Xinguei-o mentalmente de babaca escroto, filho da puta, imbecil, desgraçado, e outros nomes mais. Prometi que a minha vida seria diferente, nada de relacionamentos por um bom tempo. Ficaria SOL-TEI-RA. Desse jeito mesmo, com letras maiúsculas e separadas, porque aí a palavra e seu significado se ampliariam. Eu passaria a ir a boates, sabe, dessas que você não gosta, porque sempre preferiu um show mais alternativo? Ficaria com caras bombados desconhecidos e seria feliz, acordando no dia seguinte com algum que nem lembrava o nome. Um estilo de vida bem diferente desses que a gente viveu. Não alugaria mais filmes na sexta à noite ou freqüentaria o cultural bar aos sábados. Sairia sexta e sábado para alguma festa qualquer e ao domingo assistiria dança dos famosos, bem mulher fútil, sabe? Tudo o que você detesta. Tudo o que você despreza.
               O problema é que no meio dessa reflexão toda, e dos planos, percebi. Isso não era eu, não chegava nem perto. Porque não era só você que desprezava esse tipo de coisa. Éramos nós dois. Criticávamos, ríamos. Desde a adolescência compartilhamos a mesma opinião e aí fomos crescendo. Namoramos de maneira natural, apoiados e incentivados pelos pais. E agora, terminamos. E eu não sabia mais o que era eu e o que era você. Ficava difícil separar. Porque eu me construí em você, desse jeito que melhores amigos fazem. Só que mais forte, porque fomos mais do que isso. E aí quando percebi, parei os planos. Parei os xingamentos. Porque só vieram lágrimas e o desespero. E junto com isso tudo, veio o medo de ficar sem você e sem mim.

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