21 de dezembro de 2011

Nunca mais

              “Tchau e até logo”
              A frase foi acompanhada por um bip e a chamada do meu avião em inglês, português e espanhol. Abraço breve e desajeitado. Sorrisos constrangidos. Depois disso, pego a mala de mão, dou um aceno e caminho na direção da aeronave. Cumprimento a aeromoça, sento no local indicado pelo bilhete e nem reparo muito em meu companheiro de vôo. Distraio-me olhando para fora e não consigo avistá-lo. Seria mais dramático se fosse num filme, porque aí ficaríamos nos olhando através da janela de um ônibus velho, até o último segundo, e depois seriamos separados pelo movimentar do veículo. As lágrimas cairiam de ambas as partes, mas nenhum dos dois veria. Apenas nos perguntaríamos como seria dali em diante.
              Tínhamos chegado a um acordo na noite anterior. Não daria certo, ele dissera. Você lá na Espanha e eu aqui. Nós dois separados pela distância e o tempo, os maiores vilões. E aí, o amor morreria, ou dormiria, do modo como sempre faz. Não concordei muito com a fala, mas não discuti. Eu que era a errada da história. A que fora transferida. A culpada pela separação. Não estava em posição para reivindicações. Acabou. Pronto. Havia amor? Sim, mas do que adiantava? As dificuldades apareceram. Vamos ser racionais, então, embora nunca tenha tido tal qualidade.
               E aí nos separamos. A pizza acabada na nossa frente, com apenas os restos das bordas, a coca cola pela metade, e o filme pausado. Bem do jeito de namorados mesmo. Mas não éramos mais um casal. Sei lá o que éramos. Amigos? Desculpa, mas todo aquele estranhamento não podia ser amizade. Acho que morreu mesmo, acabou. E dói, posso dizer isso. Não sou fria a ponto de engatar em um namoro com um espanhol e esquecer. Tenho certeza que você também não.
               As lágrimas chegam, invariavelmente. Escuto crianças e pais rindo ao fundo. Viagem de férias. Eles voltariam, eu não. Acho que é esse o pior problema da despedida. Saber que não haverá uma próxima vez, ou que pelo menos, não por um bom tempo. É quase pior do que a morte. Porque quando uma pessoa passa dessa para a melhor, você sabe que acabou. E aí acaba se conformando. Quando a coisa muda para um “até logo”, há expectativa e esperança. E fica só nisso. Você acaba esperando que as coisas voltem a ser como antes, mas não vai acontecer. Nunca mais. O Brasil? Só nas férias, meu caro. E nessa época não nos encontraremos, porque não desejaremos alimentar a saudade para depois. Dizem que ela acaba depois de um tempo, se não nos vermos nunca mais. Prefiro deixar que a lembrança se apague. Desse jeito vou acabar criando minhas próprias conclusões ou consolos. Foi o que era para ter sido. Para que mudar?

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