15 de maio de 2011

O caminho para o sol


            A música, alta em meus ouvidos, abafa o falar alto de todos os outros que se encontram no mesmo ambiente que eu. Fico em estado de transe, perdida em pensamentos que tentei não encontrar. A nostalgia faz de mim um caco e as lembranças trazem a ilusão de realidade.
            Quero voltar para casa.
            A frase volta, como aconteceu várias vezes no ano anterior. Dessa vez, porém, há a vontade de que não seja verdade e que não passe de um pensamento momentâneo. Não quero as mesmas dúvidas, medos e infortúnios de antes. Quero apenas continuar nesse meu mundo atual, cheio de tudo que não seja você.
            Desobedecendo a mim mesma, acabo abrindo algumas fotos e olho para cada rosto nelas presente. Encontro seus olhos, seu sorriso e a barba por fazer no rosto inconfundível ao qual segurei entre minhas mãos em uma noite dessas. Não consigo esquecer.
            Não.
            Tento me afastar de mim mesma. Abro os olhos, olho ao redor e vejo todos os outros. Não são você. Não estão nem perto de você.
            Tiro o fone. A gritaria imediatamente invade meus ouvidos. Não me importo. Ainda estou em transe. Ainda penso em você. Ainda sinto você.
            Levanto-me e caminho em direção à porta, sem nem sequer pensar. Posso escutar o som alto do fone de ouvido, mesmo não o usando. Concentro-me na música.
Subo as escadas e quando chego ao meu quarto, jogo-me na cama. Ainda escuto o vocal quase mudo de seu cantor favorito. Olho ao redor e percebo os pôsteres que me deu. Os livros que me indicou. Cada pedaço de você encontra-se em tudo de mim.
Em uma tentativa desesperada, vou até a varanda e encontro abaixo de mim um caminho de dez metros para o fim. Aventuro-me a subir no muro que dá para o precipício e ando pelo espaço pequeno, brincando com a minha própria sorte. O sol está se pondo e o céu está avermelhado. Olho para a grande bola avermelhada, sem estreitar os olhos. Tento segui-la e quando dou por mim estou caindo na direção oposta a ela. Errei o caminho, mas ao mesmo tempo sinto que acertei.
Meus últimos pensamentos voltam-se para você. Dessa vez, porém, um sorriso maldoso espalha-se por meu rosto. Eu vencia. Nunca mais pensaria em você.

2 comentários:

Gi Zamai disse...

Tão sentido, e tão belo...Chega a arrepiar! Grande abraço

Lorrayne Toebe disse...

Tão intenso, sensível e delicado. Me identifiquei muito com o texto, parabéns!

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