28 de março de 2011

Insanidade platônica


As lembranças jorram em minha mente quase como uma névoa que passa por nossos olhos e tampa boa parte da visão. Não consigo deslumbrar os detalhes. Os gestos, expressões, roupas e lugares ficam praticamente invisíveis. Tento resgatar alguns deles, mas o pouco que consigo não serve para muita coisa. Não ligo muito, porque o que importa mesmo é você, e graças aos céus, consigo vislumbrá-lo com uma questionável perfeição.
                Recordo-me de seus sorrisos, gracejos, falas inoportunas, e ao mesmo tempo oportunas, erros, medos, incertezas, certezas, delicadezas, conclusões, risos, beijos e abraços. Cada detalhe, cada toque, cada palavra, cada declaração, cada promessa, cada mentira, cada pedaço de você.
                O tempo não conseguiu me fazer esquecê-lo e nem mesmo a distância. As memórias ainda são nítidas, brigo para que sejam. Os detalhes de seus toques ameaçam desaparecer e somente ameaçam, porque imediatamente os retomo. Lembro-me da textura de seu cabelo e das suas mãos ásperas, que mesmo assim conseguem tocar-me delicadamente. Delicadeza esta que dedicou a mim e a outros, embora meu egoísmo desejasse que fosse uma exclusividade minha. Não foi e nunca será.
                Redijo esse texto, movida pela nostalgia muda que transborda o mais profundo lamentar. Não consigo lhe ver com maus olhos, nunca consegui. Seu vislumbre real e imaginário sempre transbordou da tão falada perfeição. Perfeição essa que pude saber existir somente contigo, porque foi você quem me fez ver a alegria e a esperança do mundo, e ao mesmo tempo perceber o inferno imensuravelmente cruel que nele habita. Foi somente você quem conseguiu me levar do céu ao inferno somente com a sua presença ou ausência. Foi você quem me mostrou a completude e me completou, mesmo quando não fui digna de te completar.

Desculpem-me pela demora. Tive que me habituar a uma nova rotina e acabei esquecendo-me do vício que é a arte de escrever.

5 comentários:

Mariana Guimarães disse...

Ain, que lindo texto, apaixonante!
Vivemos amores que jamais são esquecidos e muito menos substituivel..
Podemos estar o mais cegos da visão do mundo, mas sempre recordamos daquelas pessoas que marcam a nossa vida!

Gi Zamai disse...

Maravilhoso texto, de uma sensibilidade cativante. Dia 8/4 estarei lançando um livro de nome: HISTORIA DE UM AMOR PLATÔNICO, viu que coincidencia? Apareça no meu cantinho, abraços

Isadora Muniz disse...

Mandou, como sempre, Bella o\ Tava sentindo falta dos seus textos D: não poderia ter título mais perfeito para o texto que "insanidade platônica", ficou ótimo, as always, porém só melhorando
Beijo \o/

Karine Lima disse...

Oi, gostaria de te convidar pra participar do Clube dos escritores, tô criando esse espaço pra galera jovem que gosta de escrever poder se conhecer melhor! Se você quiser participar, ou conhecer alguém que queira, manda um email para: kmdolima@gmail.com que eu te passo todas as informações! Beijos

Sandman disse...

"As memórias ainda são nítidas, brigo para que sejam."
Muito bacana!

Postar um comentário