16 de fevereiro de 2011

Sonhos Veraneios - Parte 2


Sonhos Veraneios é o meu primeiro romance que ultrapassa duas páginas, então sejam pacientes, por favor. Assim como tudo na vida, não sei o final, conheço apenas o princípio. Então acompanhem, meus caros, pois só assim descobrirão o fim que nem eu sei qual vai ser.


Parte 1


2
           Nós ficamos naquelas casas que ficam na própria praia de Geribá. Enquanto ficávamos na piscina, dava para ver o mar à nossa frente, e os turistas, que naquela época do ano não eram muitos. O sol era fraco, mas o suficiente para nos encorajar a entrar na água gelada. Em alguns dias daquela semana, ele nem sequer se preocupava em aparecer, apenas se escondia preguiçosamente atrás das nuvens. Mas posso dizer que foi bom ter ido, fazia tempo que eu não via o mar.
           No final das contas, dois primos da Laura também acabaram indo e até conversei com eles. Um era do Rio de Janeiro, cidade que morei por dois anos, e o outro era de Juiz de Fora, onde eu fazia a faculdade e passei toda a minha infância.
           — Você vai todas as férias para o Rio? A Laura me contou que seu irmão é de lá — Lucas, o primo de Juiz de Fora, me perguntou, tentando puxar conversa.
           — Eu costumava ir muito, mas acabei cansando. Eu e meu irmão não nos entendemos muito bem.
           Ele assentiu, e voltou sua atenção para a água de coco. Apesar de se esforçar muito para conversar comigo, não parecia conseguir achar um assunto comum entre nós. Por fim acabou desistindo, e confesso que não achei ruim. Desde que passei a ficar em casa por tempo integral, havia perdido toda a capacidade de me socializar.
           — Aceita uma cerveja, Sarah? — Diego, o primo do Rio, perguntou — Está bem gelada, e é Heineken.
           Meneei a cabeça, e ele deu de ombros, não parecendo se importar. No fundo devia estar satisfeito por sobrar mais.
           — Quando seu irmão vai chegar, Lucas? — perguntou, sem se incomodar em tentar puxar alguma conversa comigo — Qual é mesmo o nome dele?
           — Matheus — Lucas respondeu, enquanto acendia um cigarro — Deve chegar daqui a exatamente...
           Olhou o relógio, e para a surpresa de todos, Matheus entrou usando óculos escuros, uma calça jeans, e uma camisa preta dos Strokes. Parecia completamente deslocado pelas roupas que vestia, mas ainda assim exibia um sorriso no rosto, como se fosse uma espécie de herói que acabara de chegar para salvar a nação.
           — Olá gente — disse, com uma simpatia de poucos — Pensei que estivesse um pouco mais frio.
           Lucas revirou os olhos, como se achasse que o irmão não tivesse jeito, e nada disse. Matheus parecia ser o irmão mais velho, com cerca de três anos de diferença, então era provável que tivesse 25, enquanto eu tinha 21. O engraçado é que eu tinha uma curiosidade estranha pelo garoto, quase exótica. Não é que eu o achasse bonito, na verdade achava, mas o jeito dele de agir era diferente. Era como se irradiasse uma energia boa, ou coisa do gênero. Eu me sentia bem com a simples presença do cara.
           Ele se apresentou para quem não o conhecia, começando pelas outras meninas, depois para o Diego, e por fim, para mim.
           — Meu nome é Matheus, como deve ter me ouvido falar para as outras pessoas dez mil vezes. Ainda não sei o seu.
           — Sarah — eu disse, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
           E para a minha surpresa, ele a beijou, como se estivesse no século dezenove ou coisa do gênero.
           — É um grande prazer conhecê-la.
           Mantivemos nossos olhos grudados um no outro durante um tempo infinito de silêncio. Parecia que o simples mosquito presente tinha medo de se mover, como se o mais raro movimento fosse atrapalhar todo aquele momento. Diego não fez uma de suas piadinhas habituais, e as outras convidadas de Laura, ou até mesmo Laura, não estavam presas na conversa sobre o que deviam fazer naquela noite. Todas elas liam alguma revista, e os meninos olhavam para o nada, como se este tivesse uma beleza não descoberta. E nós ficamos naquele olhar discreto. Eu ainda assustada por tal interesse, e ele claramente interessado.
           De perto pude notar que seus olhos eram cor de mel, e o cabelo que à luz do sol parecia castanho claro, era na verdade preto, com apenas algumas pequenas partes dele com um castanho natural. Ele era muito mais alto do que eu, e não parecia malhar ou coisa do gênero, mas ainda assim tinha um corpo bastante aceitável, para não dizer perfeitamente aceitável ao meu ver. Naquele momento me senti feliz por ter ido.
           — O prazer é todo meu — quebrei o silêncio, lembrando-me de repente que tinha me esquecido de responder.
           Ele manteve seus olhos grudados nos meus, e por fim desviou-se. Percebi que suas bochechas estavam levemente coradas, claramente envergonhado por toda aquela situação. Parecíamos adolescentes, afinal de contas.
           — Acho melhor eu trocar de roupa — disse, como se explicasse a sua mudança repentina — Está quente aqui.
           Controlei-me para não rir. Até mesmo eu, que estava de biquíni, achara todo aquele momento extremamente caloroso e a situação não deixava de ser irônica. Ele pareceu notar meu ar divertido, e também sorriu, compartilhando comigo uma cumplicidade muda e até mesmo maliciosa.
           Entrou na casa, carregando a pequena mala que havia levado, e alguns minutos depois voltou de bermuda, mas com a mesma camisa preta dos Strokes.
           — Prontinho — anunciou a chegada, mas todos pareciam muito ocupados em seus afazeres para comentar qualquer tipo de coisa.
           Ele deu de ombros diante de tal comentário mudo, e sentou-se em uma das cadeiras que se localizavam na beirada da piscina, no lado oposto ao meu. Parecia não muito interessado em olhar a vista do mar, considerando que estava exatamente de costas para ele. Não pude deixar de me sentir culpada por tal falta de interesse por parte do cara, mas ainda assim lisonjeada.
           Ele parecia bem inquieto, e isso era até engraçado. Pegou o jornal e tentou ler uma notícia qualquer, mas depois o folheou novamente, e por fim, largou-o. Tudo isso em um espaço muito curto de tempo. Depois tirou a camisa, e mergulhou na piscina. Ficou dentro da mesma por um tempo, mas ao se sentir entediado, saiu, e deitou de novo na cadeira. Levantou-se após cerca de um minuto, foi até dentro da casa, e voltou trazendo um chá mente — o chá que eu havia trago para meu próprio consumo. Consumiu-o com uma velocidade absurda, levantou-se novamente, jogou-o no lixo, e depois se sentou.
           Era engraçado ver toda aquela movimentação dele, porque era claro que Matheus era extremamente hiperativo. E o mais estranho de tudo era que eu não conseguia parar de olhá-lo. Interessava-me pelo mais simples ato ou o mais singelo movimento. Acho que foi naquela hora que me apaixonei, ao ver que ele era tão cheio de vida, exatamente a característica que eu precisava no momento. Claro, não admiti isso nem para os meus mais confiáveis pensamentos, mas o sentimento estava lá, apesar de tudo.

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