14 de janeiro de 2011

Sem título

ㅤㅤㅤEstava sozinha, apesar de tudo indicar o contrário. A cama de casal tinha os dois lados desarrumados, várias garrafas de cerveja se encontravam jogadas pelos cantos, e havia cigarros já finalizados jogados em uma vasilha que nem tinha a utilidade de cinzeiro. Anos antes, teria vergonha de fumar ou beber em casa. Nos últimos tempos, porém, nem mesmo a presença da mãe lhe incomodava. Para que? Do que adiantava a preocupação se a mulher não se movia direito mais?
Fora muito rápido, só isso podia dizer. Havia ido embora aos 14 e aos 16 ignorava o cansaço aparente de sua mãe. Pensava que era apenas uma TPM constantes, e até mesmo chegava a se irritar com o controle obsessivo que esta exercia sobre a filha.
ㅤㅤㅤAos 18 passou na faculdade, e continuou fora de casa. Ainda em outra cidade, visitando a mãe de mês em mês quando as matérias não estavam muito difíceis. Aos 25 terminou o mestrado, e aí o convívio com a mãe era ainda mais raro. A filha no exterior e a mãe ainda na mesma cidade pacata de sempre.
ㅤㅤㅤAcabou que depois de um tempo as notícias só foram dadas e recebidas através do telefone. Essa comunicação se permaneceu, até que a última notícia lhe foi enviada. Sua mãe adoecera.
ㅤㅤㅤVoltou correndo, tirando licença com facilidade do trabalho. Ao chegar, encontrou uma mãe acabada em uma cama, com os cabelos já caindo e a dignidade há muito perdida.
ㅤㅤㅤNão se importou mais com nada. Pegou alguns cigarros, algumas cervejas e deitou-se na cama que há muito não era sua. Fora apenas mantida, como uma peça de museu, esperando ansiosamente pela esperança de alguma volta. Pena que a volta ocorreu em um momento tão inoportuno...

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