16 de janeiro de 2011

Crueldade desenfreada

ㅤㅤㅤMeu coração batia forte como uma bala. Apesar de eu repetir para mim mesma milhares de vezes para não temer, não havia como me acalmar. Os batimentos acelerados eram a maior prova disso. Eu corria na direção que achava que deveria correr e ignorava a fome, o cansaço, e mais do que tudo, o desespero que pouco a pouco parecia tomar conta de mim. A sede, que era digna de pessoas que passavam dias no deserto, fazia com que meus lábios chegassem a se grudar, e minha língua se movesse de uma maneira engraçada, como se tentasse buscar a saliva de uma forma desesperada.
ㅤㅤㅤFoi dessa forma que finalmente cheguei. Era uma clareira que continha apenas um poço milenar no centro. Corri até o lugar, e comecei a puxar o balde, desesperada pelo mínimo de água possível. Algo dentro de mim dizia que eu deveria sair correndo, ignorar a sede, o cansaço e tudo o mais que pudesse. Mas não havia como, eu já estava em meus limites.
ㅤㅤㅤFoi quando eu saciava minha sede por completo que ele apareceu. Trajava as mesmas roupas de sempre, algo que fazia eu ter ainda mais ódio por ele. O homem parecia ter uma fixação por elas, tamanha era a repetição de seu vestuário. Vestia-se com uma calça jeans surrada, que um dia já fora escura, uma camisa social branca, esta amarrotada, e um tênis preto. Seus cabelos loiros, medianos para um homem, grudavam-se em sua face, como se este estivesse acabado de lavar o rosto e esquecera-se de enxugar algumas partes. Mas tal aparência devia-se ao suor que parecia descer por todas as superfícies do seu corpo.
ㅤㅤㅤEle me olhou como alguém que acabara de achar uma criança travessa, embora eu não criança fosse há muito, e avançou, lembrando-me um predador caçando sua presa. Tentei correr novamente, mas meus pés já não obedeciam. Acabei caindo, algo que facilitou ainda mais a investida. Ele aproveitou o momento e me manteve no chão, subindo por cima de mim da mesma forma que fizera tantas outras vezes.
ㅤㅤㅤAs lágrimas já começavam a escorrer, já se conformando com a coisa que aconteceria em seguida. Meu coração bateu ainda mais forte, tentando fazer com que a adrenalina ajudasse de alguma forma na fuga. Meus braços e pernas tentavam fugir de forma desesperada, mas não passavam de membros frágeis, sem força alguma. Ele posicionou-se até deixar os meus braços e pernas completamente imóveis e a última coisa que eu vi foi o seu sorriso cruel.

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