16 de janeiro de 2011

Meu clichê romântico

ㅤㅤㅤLembro-me de como eu era na adolescência. Meu pai parecia não se importar com o sentimento em si, mas apenas com meus estudos e minha educação em geral, era uma pessoa muito prática. Não o culpo, falo isso, porque foi importante. Minha mãe, por outro lado, era um misto de tudo, talento nato das mulheres, fazer o quê. Batalhadora, educadora, amorosa, gentil, rígida, bonita, e muitos outros adjetivos que podemos citar.
ㅤㅤㅤEu, por outro lado, acabei sendo uma mistura disso tudo. Sim, tinha sentimentos, mas também possuía a mesma praticidade de meu pai. Com a junção, acaba que fiquei sendo uma pessoa prática por fora, e uma romântica nata por dentro. Não me culpem, é a genética.
ㅤㅤㅤO romantismo demorou para chegar, veio aos 15, quando os beijos sem sentimento já não tinham mais sentido algum. Eu queria algo profundo, como aquilo que estava nos filmes. Um clichê romântico nato, com final feliz digno de “felizes para sempre”,
ㅤㅤㅤMas não aconteceu, fazer o que. A praticidade de meu pai acabou falando mais alto, e acabei por empurrar com a barriga o sonho romântico para a faculdade, quando teria mais tempo para isso. Quando comecei o curso de Direito, porém, acabei por comprar um cachorro e me esquecer ainda mais daquele romantismo apagado, mas ainda com uma chama pequena, que se encontrava dentro de mim.
ㅤㅤㅤVivenciei o clichê romântico e vivencio até hoje, devido ao meu trabalho. Acabei adentrando no ramo das Relações Internacionais, e vez ou outra tinha que freqüentar à alguma das festas que a multinacional para a qual eu trabalhava costumava dar. Lembro-me que ele me chamou a atenção de longe, mas em meio à tantas conversas e sorrisos falsos que tive que produzir, acabei por esquecê-lo. Ele, por outro lado, alegou mais tarde que não desgrudava seus olhos de mim, e acabou por quase ser demitido após ignorar seu chefe pela terceira vez.
ㅤㅤㅤAcaba que em certa parte da festa, após conversar com todos os membros da empresa possíveis, sentei-me em um sofá que se localizava em uma parte discreta do salão, e tirei o sapato, certificando-se de não haver ninguém por perto. Apesar de minha certeza visual, parece-me que não consegui vê-lo, já que o mesmo encontrava-se em um ponto cego, mas próximo de mim.
ㅤㅤㅤ“Eu ia te chamar para dançar, mas acho que não vai ser uma boa ideia” Ele me olhava com seus olhos verdes, que pareciam atingir até mesmo minha alma. Talvez atingisse mesmo, já que com toda a minha aparência sofisticada, eu muitas vezes acabava por assustar os homens. Pelo menos era isso o que minha melhor amiga costumava falar. Segundo ela, a culpa por meu romantismo frustrado devia-se à minha atitude errada para esse tipo de coisa desde a adolescência. Quando eu era adolescente, portava-me como alguém que nunca presenciaria o amor, com o meu descaso para os meninos que me passavam o telefone e pediam-me para ligar. Na faculdade, acabava por ofuscar os rapazes com toda a minha dedicação e brilhantismo no curso. E para finalizar, na vida profissional, acabava por ofuscar o homens por estar em um posto extremamente elevado. Devido a isso, talvez ele apenas tenha visto o que eu era por dentro com seus olhos verdes.
ㅤㅤㅤ“Boa percepção” Eu ri. Em situações normais, eu ficaria nervosa na presença de um homem tão bonito e simpático, mas acho que eu estava tão cansada, que a mera possibilidade de flerte já me parecia absurda. “Qual sede?”
ㅤㅤㅤ“Rio de Janeiro” Ele respondeu, e sentou-se ao meu lado sem pedir permissão, algo que me agradou. Não gostava muito de pessoas que ficavam pedindo para fazer as coisas, pareciam estar com medo da reação dos outros, e acabavam por ficar sem personalidade alguma na tentativa de agradá-los. “Você parece ser de São Paulo, estou certo? As pessoas de lá parecem ser mais profissionais. Em contrapartida são menos charmosas, embora você seja exceção.”
ㅤㅤㅤEu gostei do elogio, e ele me disse mais tarde que corei, embora me recuse a acreditar nisso. Fala sério, só adolescentes coram.
ㅤㅤㅤ“Também sou do Rio”
ㅤㅤㅤ“Isso explica a sua beleza, então” disse ele “Mas nunca te vi lá, me lembraria de ter me esbarrado por você.”
ㅤㅤㅤ“Sou do ramo das Relações Internacionais. Viajo muito.”
ㅤㅤㅤAcaba que no final das contas o papo se estendeu até depois da festa. Ele fez questão de levar-me para tomar um café, ignorando minhas respostas negativas, e acaba que no final fui, por insistência. Na mesma noite ele me beijou, algo que achei atrevimento da parte dele, mas o que só serviu para cativar ainda mais meu interesse. Ele não me deu o telefone dele, fez questão de pegar o meu, alegando que as mulheres bonitas nunca ligavam.
ㅤㅤㅤPouco depois de nos separarmos ele me ligou, embora ainda pudesse me alcançar com simples passos. Quando atendi, ele apenas disse: “Olá Sarah, é o Leandro. Só queria me certificar de que esse número é o certo, porque mulheres bonitas vivem dando o número errado. Fico feliz de que você seja exceção. Podemos marcar um encontro? Não vou conseguir me afastar de você por muito tempo. Amanhã? Ótimo, te pego as oito e não costumo atrasar. Mulheres bonitas não podem esperar por homens, elas que têm que os fazer esperar.”
ㅤㅤㅤEu achava engraçado o jeito como ele falava das mulheres bonitas. Ele me confessou mais tarde, que não se tratava das mulheres bonitas em geral, mas de mim e mais ninguém. Somente eu possuía os direitos que ele alegava que as mulheres bonitas tinham.
ㅤㅤㅤNos encontramos na noite seguinte, e acaba que no final das contas passamos a nos esbarrar no trabalho. Ele sempre me trazia café, e uma rosa, parecendo nunca se cansar daquele ato romântico extremista. Na primeira vez chegou a dizer que a rosa era a simbologia perfeita das mulheres especiais (acabou por mudar o adjetivo depois), porque eram bonitas, cheirosas, e sempre faziam alguém feliz. Mais tarde ele disse que a rosa era na verdade a simbologia perfeita para mim.
ㅤㅤㅤEle me conquistou aos poucos, porque sempre fui muito cética com relação aos sentimentos. Eu, porém, conquistei-o logo no primeiro olhar, segundo ele. Não costumo acreditar muito quando faz esse tipo de confissão, mas vou tentar. Afinal, o clichê romântico é abarrotado das mais variadas belas declarações. As dele, posso garantir, superam a dos filmes que adquiriram as maiores bilheterias. Já as minhas não passam de clichês já muito usados, mas que ainda assim possuem o significado mais profundo e vem daquela chaminha sentimental que mencionei antes, mas que agora já adquiriu a proporção de um incêndio. Contento-me em falar para ele um simples “Eu te amo”, ciente de que essas três palavras resumem todos os milhares de sentimentos que ele me causa.

3 comentários:

Fernando Henrique disse...

Legal
os simples "Eu te Amo" diz outra milhares de coisas,
é tã obom ouvir ^^

http://utilounaoutil.blogspot.com/

Unknown disse...

Caraca , EU TE AMO , como essas 3 palavras dizem tudo , e não precisa dizer mais nada , so isso basta!
ja estou seguindo , se puder da uma olhadinha no meu agradeço desde de já !
http://amomuitotudoissso.blogspot.com/
obs: amei esse seu post!

Kaerveck, o terravus. disse...

estranho voce falar de cliche romantico já que acabei de ler uma graphic novel que lebra, disse apenas Lembra, a sua historia. Porem vista pelo angulo do Cara.
Embora seja cliche mesmo, e vao vou dizer o contrario, mesmo assim clhiches tem seu valor e algo a acrescentar.
Ainda é muito cedo pra mim opinar sobre seu jeito de escrever, antes de eu fazer isso, vou ler mais do que voce escreveu.
Ate mais!

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