18 de dezembro de 2010

Meu eu romântico

É esse romantismo tolo que é o culpado por fazer-me bater a cara no chão diversas vezes. Porém, consigo sarar-me e batê-la de novo, felizmente. Não sei ao certo quantas vezes mais poderei cair, e voltar à vida com a mesma alegria de antes. Talvez mais duas ou três, não sei. Ou quem sabe o dobro das vezes que já cai.
Perguntam-me quantas vezes sofri, quantas vezes chorei, e quantas vezes mais terei que me submeter aos dois verbos antes citados. Eu realmente não sei. Posso parecer tolo, um pobre alguém que teve a infelicidade de acreditar em algo que não existe, — permitam-me ser clichê, por favor — mas posso dizer que não me arrependo. Acho que sofro amnésia, é isso.
Não sou doente mental, adianto-me a dizer, por mais que pareça suspeito, já que os pobres doentes jamais admitem ter tal doença. Sou apenas alguém que sofre de algo misterioso e ao mesmo tempo prazeroso. Sofro de um esquecimento do que não prestou e a constante lembrança do que marcou.
Vejam bem, meus caros. Explicarei minha filosofia com base na experiência e entenderão melhor. O que me faz ter a quase certeza do que me acontece é o que já aconteceu, ou o que penso que acontecerá.
Lembro-me da primeira vez que amei. Sim, digo amei, porque de fato amei. Não durou, porque não permaneceu, mas ainda assim foi amor, porque senti ser. Ela era loira e possuía um jeito angelical. Seu corpo, miúdo, fazia da timidez dela ainda mais significante e também charmosa, tenho que admitir. Era meiga sobre todos os aspectos e me encantava, de forma até mesmo assustadora.
Da primeira vez que eu a vi, estávamos ambos em uma festa de escola. As meninas com a qual ela estava dançavam de forma descontraída, e até mesmo desrespeitosa. Ela, porém, mostrava sua timidez até nos movimentos, balançava-se sem muita segurança, apenas colocando um pé para o lado e o outro para outro, com um ritmo não muito fiel ao da música. Eu estava com os outros, sem dançar, já que os meninos da idade não dançavam. Lembro que a olhei por muito tempo, tentando tomar coragem para falar-lhe, e ignorando os meninos que ainda, imaturos, tiravam sarro das garotas, mesmo no fundo admirando-as.
Levantei-me do banco ao qual me sentava e sem dar explicação, aproximei-me. A febre da época era o filme Grease, então eu me vestia com um casaco de couro e tentava ter a mesma forma do protagonista. A pose de malandro, no entanto, não permaneceu, já que acabei por me render aos encantos infinitos da garota.
— Senhorita — eu disse, sem saber ao certo o significado da palavra, mas ainda assim dizendo — Poderia saber seu nome?
Galanteador eu não o era, mas tentei ser. Ela, felizmente, não era muito crítica aos meus dotes românticos e não ligou. Se fosse outra, era bem provável que me desse as costas, fingindo que eu não existia. Ela, porém, perfeita do seu jeito como o era, sorriu e respondeu-me:
— Sou Isis e qual o seu nome?
— Gabriel — respondi, abrindo um sorriso infantil, mas ainda assim apaixonado — Quer dançar?
Olhei ao meu redor, sem graça, e depois voltei a olhá-la, com medo da resposta que fosse me dar. Ora, eu tinha apenas 13 anos e nunca havia ido tão além, entenda-me. Uma dança, naquela idade, já era considerada o beijo da atualidade e o beijo em si, o namoro.
— Claro.
Ela colocou a mão no meu ombro desastradamente e eu em sua cintura, de forma ainda mais desajeitada. Eu a olhava nos olhos e ela retribuía o olhar. Era intenso e apaixonado. Na época eu não sabia que estava amando, mas pude perceber após algumas noites de insônia e com o entender inesperado das músicas e livros de amor.
Uma música se passou e acabei fazendo o pedido por mais uma. Nesse vício de não largá-la, acabei me estendendo pela festa inteira.
Foi a mãe dela quem terminou com o momento. O anfitrião da festa chamou a Isis, dizendo que a mãe lhe esperava e eu me despedi, com um beijo ousado em seu rosto. Não podia aventurar-me a dar mais do que isso. Ela se foi e eu a vi partir, sozinho na pista de dança que àquela altura já se encontrava praticamente vazia.
Ansiei por mais um encontro, mas este não veio. Isis, para minha infelicidade, não era de minha escola e devido a isso, não a encontrei mais. Mas posso dizer que ainda assim a amei, porque durante meses lembrei-me das poucas horas que passamos juntas, e principalmente, da despedida abarrotada com a ansiedade por outro encontro.
Outros romances também vieram. Conforme meu amadurecimento, as barreiras foram se quebrando naturalmente. Posso dizer que a maioria deles foi duradoura, de certa forma. Alguns romances permaneceram por alguns dias, outros por semanas, outros por meses e uns poucos raros por anos. Foram diferentes de muitas maneiras, mas ainda assim posso dizer que tudo foi amor. Ansiei por cada outro encontro que tive com cada uma delas e mais do que tudo, sonhei com a eternidade da paixão.
Não foram eternas no acontecimento, mas ainda assim são eternas em meu pensamento. Lembro-me de todos os bons momentos que vivi e com essas boas lembranças procuro por mais.
Um dia há de ser eterno e enquanto não for, continuarei minha procura. Porque é esse o meu jeito romântico de ser.

2 comentários:

Lucas Adonai disse...

"Um dia há de ser eterno e enquanto não for, continuarei minha procura. Porque é esse o meu jeito romântico de ser. "

Muito bom! parabéns pelo texto
muito interessnte

Dona Ana disse...

Felizes os românticos de coração, porque deles nasce a poesia. Gostei muito do seu blog. Beijos

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