10 de dezembro de 2010

Lembranças Insanas

Olá gente. A partir de hoje vou começar a postar uma história que não sei ao certo que fim vai levar. Espero que eu realmente consiga terminá-la, já que estou com uma pasta inteira de livros inacabadas. Não sei se esta chegará a ser um livro, mas para tentar me motivar a terminá-la, postarei nesse blog capítulo a capítulo para que opinem e eu me sinta na obrigação de postar mais. Espero que gostem da ideia. Ultimamente meu espírito criativo não tem cooperado.

Prólogo:


─ Sinta-se em casa.
Ele disse, com um sorriso simpático no rosto. Abriu espaço e deixou que eu entrasse. A casa em si era simpática, mas parecia não ver faxina alguma há um bom tempo. Alguns copos encontravam-se sobre a mesa de centro, as almofadas estavam desorganizadas no sofá e alguns jornais velhos encontravam-se espalhados no chão, dificultando a passagem.
─ Desculpe pela bagunça. Estou envolvido em alguns trabalhos da faculdade e não tive tempo de arrumar.
─ Você está dando aula, não é? ─ perguntei casualmente, tentando deixar a visita não tão profissional assim.
Nunca gostei muito de invadir a casa das pessoas para uma entrevista, era um pouco estranho. Mas Leo disse que só aceitaria ser entrevistado se fosse na casa dele. Alegou que não gostava de comer fora, porque os restaurantes nunca tinham um bom jogo de futebol na TV. Eu particularmente não tinha como pensar em assistir futebol no meio de uma entrevista, mas aceitei. Leo nunca havia aceitado fazer entrevista alguma desde que tudo acontecera, então era uma oportunidade única.
─ Sim, estou. Faz mais ou menos dois anos que leciono na graduação do IAC.
Eu sorri, esperando que houvesse alguma luz de um outro tipo de assunto. Infelizmente não veio. Nunca fui uma pessoa de muita conversa e aparentemente Leo também não era.
─ Então... Vamos começar? ─ sugeriu um pouco sem jeito, claramente não sabendo como uma entrevista acontecia.
─ Claro ─ eu disse, também sem jeito. Era por isso que eu detestava entrevistas em casa. Eu me sentia um iniciante novamente no ramo da Comunicação. ─ Vou colocar um gravador, tudo bem?
─ Se não publicar nada falando mal de mim está ótimo ─ ele disse, tentando fazer piada.
Eu ri. Sentei-me no sofá sem pedir permissão e coloquei o gravador sobre a mesa. Ele se sentou no sofá individual que se encontrava ao lado da TV e em frente a mim e me olhou, esperando pelo que eu tinha a dizer. Definitivamente o motivo de escolher sua casa para a entrevista não era o futebol.
─ Faz um ano desde que Thiago Evans foi morto. O mundo inteiro quer saber exatamente o que aconteceu, considerando que você era o melhor amigo dele. Está pronto para contar?
Leonardo passou a mão na cabeça e suspirou, como se estivesse tentando conseguir forças para falar. Olhou para o chão durante alguns segundos que me pareceram intermináveis e depois começou, ainda sem olhar para mim.
─ É difícil, por mais que já faça um ano. Ainda mais se considerarmos que eu que apertei o gatilho. As pessoas vivem dizendo. “Você não tem culpa”, “Você fez o que foi preciso.” Eu posso ter feito o que foi preciso, mas ainda assim me sinto culpado. Talvez... Talvez se eu tivesse percebido tudo antes, a compulsão dele, a... A doença... Se eu tivesse percebido, ele poderia estar aqui agora, após de intensos tratamentos em uma clínica qualquer.
─ O que exatamente o levou a matá-lo?
Leonardo riu, mas não um riso de alguém que achava alguma situação hilária. Era um riso desesperado, daqueles que você produz só para não cair em lágrimas. Tive vontade naquele momento de desligar o gravador e ir confortá-lo de alguma forma. Mas aquilo não era profissional e me contive. Aquela entrevista era o ápice da minha carreira, tudo o que eu precisava para conseguir o reconhecimento necessário para realizar trabalhos maiores.
─ Ódio com certeza não foi ─ continuou, desta vez olhando para mim ─ Porra, ele era meu melhor amigo! Amigos não dão em árvores, sabe? Ainda mais alguém como o Evans. Thiago era um puta cara, entende? É por isso que eu me culpo, ele nunca puxaria o gatilho, não importando o quão mal eu tivesse. Sempre encontraria um jeito, sempre teria esperança. Mas eu não tinha certeza se havia tanta esperança. Não depois de tudo o que ele fez, de tudo o que continuou fazendo, mesmo com meus alertas. E depois com aquele negócio da clínica... Bom, não havia mais jeito! E eu puxei o gatilho, porque eu era o único capaz de me aproximar.
─ Entendo ─ eu disse, não sabendo ao certo o que fazer para continuar mantendo-o falando.
─ Entende porra nenhuma! ─ Leonardo retrucou ─ Os merdas que se aproximam de mim vivem falando. “Eu entendo.” Nenhum filha da puta conhecia o Thiago. Todos achavam e ainda acham que ele era só um babaca qualquer que teve uma doença mental. 80% desses idiotas ainda acham que ele é um desgraçado pelo que fez. Eu te digo uma coisa! Ele não era um desgraçado, ele não era culpado. Thiago nunca machucaria uma mosca!
─ Leonardo, não o culpo pelo que aconteceu. Estamos te dando espaço justamente para que você fale a verdade. Isso irá fazer todos tirarem essa história a limpo.
─ Você quer essa história, não é? Pois bem, vou te dar a história e você vai publicá-la onde quer que você trabalhe.
─ Revista Delta ─ me apressei a dizer.
─ Pois bem. Publique a história nessa Revista Delta. Mas você vai fazer isso direito. Reserve muitas páginas para isso, porque não vou falar apenas dessa história que todos querem ouvir. Vou falar da história toda, desde o início. Quero mostrar quem o Thiago é e o Thiago que todos devem ter em mente antes de abrirem a boca para falar qualquer coisa sobre ele.

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