8 de novembro de 2010

Profissões

Eram dois no total. O garoto, o indeciso, e a garota, a impaciente. Ela estava mais interessada em estudar para a prova de Biologia que teriam na semana seguinte e ele, porém, encontrava-se em uma espécie de crise existencial.
— Ai, Luiza! Eu realmente não vou conseguir estudar se não descobrir. Eu sinto como se estivesse estudando para nada. Preciso de um propósito!
Luiza revirou os olhos em resposta à fala do garoto. Se não precisasse tanto de ajuda, apenas juntaria as coisas e iria embora por aquela porta. No entanto, aquilo não era possível. Entender todos aqueles reinos de seres vivos era algo que não conseguiria nunca sem a ajuda do amigo.
— Pois bem, Renan. Se quer tanto conversar sobre isso, vamos lá.
Fez uma pausa para avaliar o que falar de fato, e continuou:
O que te incomoda? Você está estudando para o vestibular, oras! Daqui a quatro meses fará a prova que decidirá a sua vida.
Renan mordiscou os lábios, nervoso com tal pensamento. Após pensar por um tempo na ideia de ter que fazer a prova que decidiria tudo, respondeu:
— O que me incomoda é justamente isso! Eu não sei o que fazer da vida!
— Bem... Você é bom em Biologia, podia fazer Medicina...
— Eu odeio anatomia! Só de ver aqueles bonecos que mostram os músculos já fico apavorado. Mais apavorado ainda quando a professora começa a explicar doença por doença!
Luiza suspirou, mas continuou pensando. Sabia muito bem que a resposta não sairia ali. Renan era o tipo de pessoa que pensava em milhares de opções possíveis e nunca se decidia. Vez ou outra alegava que tinha resolvido o que fazer, mas após um tempo encontrava problemas que não existiam e desistia.
— Que tal fazer Direito? Os professores sempre falam que você tem capacidade de argumentação...
— Ah, mas e o terno?! Você sabe que eu odeio roupas formais. Quero trabalhar de calça jeans e blusa bem leve. O clima aqui no Rio não combina com uma roupa pesada.
Naquele momento, Luiza pensou em desistir. Não adiantava, devia largar para lá e estudar sozinha mesmo. Tinha talento para conseguir amigos que possuíam algum tipo de problema.
Primeiro havia sido um tal de André que acabou se apaixonando por ela e a perseguiu de forma assustadora. Depois foi uma tal de Martha, que sempre a pedia para acobertar os casos que tinha com os professores. E agora o Renan, um menino que possuía a maior mania de indecisão.
Não era só com relação à profissão. Era sobre tudo! O garoto não conseguia escolher nem mesmo a cor dos jeans que usaria no dia. Acabou optando depois de um tempo por comprar apenas um tipo de calça.
Mas agora havia esse problema da profissão. O maldito problema da profissão! Tivera a vida inteira para se decidir e até agora não tinha a menor luz sobre o que fazer da vida. E o que acontecia? O seu querido professor de biologia particular não ensinava a matéria porque estava indeciso sobre o que fazer.
Era mesmo uma droga.
Ela respirou fundo, juntou suas coisas e disse, já meio cansada de tudo aquilo:
— Quer saber, Renan... Estou cansada disso tudo. Você devia fazer é psicologia, isso sim! Precisa tentar se entender antes de tentar entender a vida real.
E para a surpresa de Luiza, os olhos do Renan se iluminaram diante de tal ideia e ele exclamou, entusiasmado:
— Psicologia! Eu sempre gostei dessa profissão, mas minha mãe acha que é mal remunerada. Você acha que é uma boa, não é?! Eu sabia! É psicologia que eu tenho que fazer, isso sim!
Para completar o fato, Renan pegou todo o material de Biologia e recomeçou a explicar, com uma paz que qualquer um não julgaria que tivesse.
Naquele momento havia de fato escolhido a profissão. A questão era realmente saber se essa decisão se permaneceria. Luiza duvidava muito, mas não pensou muito nisso. A prova de Biologia era muito mais importante que uma das crises existenciais do amigo.

1 comentários:

Anônimo disse...

Falta brincar mais com a palavra, se entregar mais à literatura. Está muito frio e desinteressante, diferenciando-se de uma dissertação apenas pela existência de personagens.

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