8 de setembro de 2010

Um dia incomum

Naquela manhã, algo parecia diferente. A cama da minha mãe, por exemplo, estava desarrumada, algo que nunca vi acontecer. A bola de basquete de meu irmão encontrava-se intacta no chão de seu quarto e Luke, meu cachorro, ainda estava trancado no quintal.
Fui para a escola e assisti às aulas, nem sequer me lembrando do incidente anterior. Quando chegou a quarta aula, o diretor me chamou à sua sala e eu rapidamente fui, com medo de ter feito algo errado.
- Bom dia, Matheus – disse ele – Chamei-lhe aqui para avisá-lo que sua mãe pediu sua liberação. Ela pediu para que você fosse para a sua casa agora.
- Por quê?
- Fiz essa pergunta e ela me respondeu que eram motivos pessoais. É melhor se apressar.
Cheguei em casa alguns minutos depois, devido à proximidade da escola. Quando cheguei lá, tudo parecia em ordem, exceto pelo fato incomum de minha mãe estar em casa e não na casa de minha tia costurando, como sempre fazia.
- Mat – disse ela emocionada enquanto avançava em minha direção – Que bom que veio!
Ela se aproximou e me beijou no rosto. Seu sorriso era reluzente, outra coisa incomum. Desde que uma coisa que me recuso a mencionar aconteceu, toda a energia que ela antes transmitia não existia mais.
- Que houve mãe? – perguntei, não conseguindo esconder a curiosidade.
- Seu pai – disse ela quase chorando – ele voltou.
Fiquei imóvel por um momento, recusando-me a acreditar que aquilo de fato acontecera. Meu pai saira para a guerra dois anos atrás e nós pensávamos, mesmo que não verbalizássemos, que nunca mais o veríamos. E ali estava, a realidade mais maravilhosa possível jogada na mesa de forma tão simples, tão fácil.
- Onde... Onde ele está?
- Arrumando-se. Vai haver uma celebração hoje na hora do almoço. Seu pai vai ganhar medalhas. Corra para seu quarto! Precisamos ir para lá daqui a uma hora.
Não esperei que falasse duas vezes. Lembro-me que três anos atrás, antes de meu pai ir para a guerra, eu odiava qualquer tipo de celebração militar. Confesso que até hoje não gosto muito, mas naquele dia incomum, nem mesmo os antigos gostos permaneciam mais. A alegria era tanta que qualquer coisa que me pedissem seria bem vinda.

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