28 de julho de 2010

Caso pouco usual

Eu ainda me surpreendo com esse mundo e acho que vou continuar me surpreendendo. Algumas surpresas boas e outras... Bem, nem tanto. Outro dia desses eu estava em um hospital público qualquer e me deparei com um casal. A mulher estava sentada e o homem, por sua vez, em pé. Só havia duas cadeiras ali na sala de espera então me sentei, já que pensei que o rapaz não quisesse se sentar.

No entanto, reparei em uma dessas olhadelas que acabamos dando para as pessoas ao nosso redor que a expressão do moço não era lá das mais convidativas possíveis. Era uma cara de dor, como se ele estivesse sendo torturado de uma forma desumana. Como não sabia o que o atormentava, ofereci o lugar.

- Não precisa não, senhor... Estou bem aqui. Mas agradeço muito.

Até mesmo as falas do sujeito não saíam de uma forma regular. Era como se a dor fosse tanta que o impedisse de falar normalmente.

Dei um sorriso meio amarelo e voltei minha atenção para a leitura. Não tardou muito para que eu fosse chamado. Como o hospital não possuía muita estrutura, os consultórios eram separados por panos ao invés de paredes. Não me surpreendi, já que eu freqüentava atendimentos públicos desde quando eu era criança.

O doutor se aproximou e perguntou o que estava errado. Respondi dizendo que estava com dor de garganta. Ele pegou aquele objeto que não me recordo o nome para olhar minha garganta e depois começou a anotar uma receita em um dos seus papéis.

Foi nesse meio tempo que escutei. A voz era a mesma do rapaz da sala de espera e apesar de seu tom ter saído baixo, por os consultórios serem tão próximos, escutei:

- Eu estou com a cenoura lá, doutor... Sabe, no ânus... Ela se quebrou quando estávamos em momentos íntimos e não consegui tirar mais. É que eu estava variando um pouco os papéis com minha esposa, fazemos isso de vez em quando, entende?

Arregalei os olhos e acho que minha expressão ficou tão congelada que o doutor percebeu. Ele soltou um risinho discreto, achando que eu não iria perceber, mas percebi. Estava em choque, mas ainda assim tinha ouvidos e olhos.

- Aqui está sua receita, senhor Tadeu.

Peguei ela, mas não consegui me mover imediatamente. O doutor disse que eu já estava livre para ir ao perceber a minha demora. Eu sorri para ele, não me importando se o sorriso fosse sair falso ou não e sai, ainda pensando nas palavras do rapaz. Eu não sabia o que era pior... Se era o lance de inverter os papéis ou de usar uma cenoura. Pelo amor de Deus, uma cenoura! Uma cenoura!

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