3 de dezembro de 2009

Denúncia de sobrevivência

Wilson se sentou em frente ao judeu com uma expressão indiferente. Para ele não importava se aquele era ou não inocente. A ordem era somente aquela: Torturá-lo da forma mais cruel possível para que este revelasse qualquer coisa que pudesse. Os generais normalmente variavam as vítimas, mas aquela estava tendo uma colaboração especial. Parecia querer cooperar mais do que os outros, talvez porque tivesse a vaga esperança de conseguir algum lucro além do mísero prato de comida.

O general fez a mesma coisa de sempre, retirou o prato fundo do microondas após esquentá-lo e o colocou em sua frente, um pouco longe de Abel, mas perto o suficiente para que pudesse sentir o cheiro.

— Comece a falar, meu caro — Wilson disse sem se prolongar — Vou poupá-lo das duas torturas que o submeti nas duas primeiras vezes, pois sei que está apto a cooperar.

Abel pareceu ficar lisonjeado com a fala do general e até abriu um sorriso de canto, envergonhado. Nem sequer pensou no que falar, foi logo se esticando na direção de Wilson como uma fofoqueira se inclinava na direção de seu interlocutor e começou a falar:

— Baruch pretende entrar em contato com amigos judeus para que estes contrabandeiem algum dinheiro. Quer subornar um dos soldados, acha que algum deles irá aceitar a quantia em dinheiro.

Wilson deu um murro na mesa que fez com que Abel de imediato se afastasse e se levantou de forma bruta, raivosa. Era do tipo de general que tinha seus ideais muito bem formados e não admitia que a possibilidade de algo que desonrasse aos mesmos existisse.

— Baruch?! — o general perguntou, mas a pergunta era para ele mesmo e não para o judeu à sua frente — Vou mandar matá-lo!

Os olhos de Abel de imediato se arregalaram diante da declaração. Gostava de Baruch, parecia ser o único judeu que ainda tinha esperança de ser salvo. Abel estava tão sem esperança que estava ali na frente do general contando a ele tudo o que podia contar em troca de um simples prato de comida e um pouco de paz. Mas será que aquela seria a única possibilidade? Aparentemente sim.

Abaixou a cabeça, sabendo que qualquer tipo de contestação poderia resultar em uma semana sem comida e esperou pela autorização de finalmente poder comer.

— Pode comer, sua ajuda foi boa como sempre — Wilson disse após um tempo — Você é até um bom rapaz. Pena que o fato de ser um judeu acaba com tudo. Maldito sangue o seu, heim?

Abel não respondeu ao comentário, apenas puxou o prato em sua direção e começou a comer de forma quase desesperada. Não sabendo se comia para matar a fome ou para tentar se esquecer da culpa que sentia por denunciar seus próprios irmãos.

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