21 de novembro de 2009

Segredo

O rapaz mexia no celular de forma irritante, mas a psicóloga não fez menção em chamar-lhe a atenção. Se o fizesse a distância entre os dois ficaria ainda maior e a credibilidade de melhor psicóloga da cidade podia cair. Chad era distante por natureza, apesar de tentar se mostrar sociável, engraçado e amável. Para as pessoas normais aquele tipo de barreira passaria despercebido, mas não para Norah. Assim que o rapaz entrou por sua porta exibindo o sorriso que sua mãe disse ser presente em seu rosto, ela viu que tudo não passava de uma simples máscara.

A questão era saber o que ele escondia.

— E então Chad... Suas notas são boas, possui uma linda namorada e muitos amigos. Renda com certeza não é um de seus problemas, já que estuda no colégio mais caro da cidade e mora em um dos bairros mais visados. Aparentemente não possui problema algum, mas está claro que isso não é verdade, não é? Se não tivesse um problema não teria tentado se matar.

Chad não se mexeu, continuou a jogar o ridiculamente fácil Tetris que possuía em seu celular tentando não demonstrar nenhum tipo de mudança de reação.

A tentativa não passou despercebida pela psicóloga.

— O que aconteceu, Chad? Eu posso te ajudar, estou aqui para isso — Norah disse enquanto abria um dos sorrisos mais maternais possíveis.

O menino suspirou teatralmente, tentando fingir frustração. Colocou seu celular ao seu lado e finalmente olhou Norah diretamente nos olhos.

— Foi uma estupidez! Não vou fazer de novo, está bem? O problema já não importa mais!

Se não importa não há problema em contar... — a psicóloga pressionou.

— Se não importa não há porquê contar — Chad corrigiu — Vocês, psicólogos, são um pé no saco.

— Na realidade, é meu dever saber o porquê. Você não está curado, eu fiz psicologia e estou aqui com você agora ficando a cada minuto mais ciente de que o problema precisa de solução.

— Se eu não resolver sozinho então vai ficar sem solução — o rapaz disse enquanto pegava seu celular e recomeçava o jogo.

A psicóloga se inclinou na direção de Chad e colocou sua mão sobre a dele. No entanto, ao invés de se sentir seguro como era a intenção de Norah, o garoto apenas se afastou de forma súbita e agressiva sem pronunciar nenhuma palavra.

Norah apenas voltou para seu lugar anterior.

Por que esconde o motivo? É tão ruim assim?

O rapaz soltou uma risada amarga, o ar do menino ficou debochado e por um momento Norah quase chamou a mãe de Chad de cega por achá-lo amável.

Talvez ele estivesse apenas se libertando.

— É ruim para mim e pode ser banal para você. Mas acontece que não importa para quem eu conte, não vai mudar a sensação que eu sinto e não importa o que você fale, o vazio não vai se preencher. Consegue entender? Eu não quero falar porque sei que vai ser inútil.

— Mas você precisa... É o seu tratamento — Norah disse enquanto pouco a pouco perdia a confiança de que fosse conseguir algum progresso com Chad — Você vai ficar melhor, prometo te ajudar.

— Eu não quero ajuda — Chad disse — Vou mostrar que essa sua falsa tentativa de fingir se importar não é necessária.

O rapaz se levantou, tirou do bolso um papel amassado e o entregou para a psicóloga.

— Sua fama é boa e vai continuar sendo — disse sem esperar pela leitura da doutora — Aconselho a você que me deixe em paz e agarre esse relatório fingindo que estou tratado. Não vou mais fazer besteiras e continuarei a atuar como atuei por muito tempo. Nada irá mudar.

Ele começou a caminhar na direção da porta e Norah começou a protestar, mas o rapaz apenas disse sem se virar:

Pense nisso e me ligue para marcar a próxima sessão caso seja necessário.

Abriu a porta, saiu e a fechou atrás de si sem olhar para trás uma única vez.

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