29 de novembro de 2009

Príncipe dos pesadelos

A jovem se encantou com o príncipe que estava à sua frente. Não podia ser real, podia? Ele era simplesmente todas as fontes de seu sonho, tudo o que sonhou quando menina. E tudo o que pensou que não poderia ter. Mas ali estava ele, bem à sua frente, estendendo sua mão para uma dança.

— Milady — disse enquanto sorria de um jeito único, chegava ser melhor do que em seu sonho — Poderia conceder-me a honra de uma dança?

Claire estendeu a mão de um jeito automático, sem sequer pensar. Estava hipnotizada pelo que estava acontecendo. A música lenta só parecia deixar o ambiente mais mágico do que já estava e Peter ainda mais único. O jovem príncipe possuía cabelos loiros que caiam de forma bem cuidada até os ombros e trajava um terno cinza listrado em branco com uma gravata verde que conseguia realçar seus olhos cor de mel.

Peter pegou a mão da adolescente de forma delicada, quase como se estivesse pegando uma delicada pena e a puxou para si de uma forma mais delicada ainda. Os dois dançavam no centro da pista de dança e mal notavam os convidados que os rodiavam ou as câmeras que os fotografavam. Se fosse em outra ocasião, Claire estaria tentando capturar a atenção de todas as câmeras possíveis para ter mais chance de conseguir seu futuro como atriz, mas ali, com Peter, a ideia parecia até mesmo infantil. Atriz... Como poderia concentrar-se naquilo estando nos braços de um homem daquele? Não havia sentido algum.

Ele olhava para ela nos olhos e parecia enxergar nela uma beleza que não existia. Não era para menos. Afinal, Claire não era o exemplo perfeito de bela moça. Era um pouco gordinha para os padrões da moda e tinha um cabelo não tão sedoso quanto o de suas amigas. Com aquela combinação, nem mesmo seus olhos em um perfeito azul do mar conseguia salvá-la. Mas Peter não parecia concordar com a avaliação da maioria, tinha uma visão própria.

E tão rápido como começou, acabou. A música foi pouco a pouco sumindo no ar e o início de uma não tão romântica foi começando a surgir das caixas de som. Peter deixou a jovem e fez uma reverência antes de começar a se afastar.

— Espere! — Claire se viu dizendo.

Peter virou-se com uma visível interrogação nos olhos e esperou que a menina dissesse qualquer coisa, mas os segundos foram se passando e as palavras ficaram entaladas em uma exclamação muda.

— Não vá — ela disse enquanto se reprimia por tê-lo feito. Qual era a dela? Havia se tornado uma menina ridícula e insegura?

Peter sorriu de um jeito que a irritou. Não era do jeito gentil que havia feito quando a pediu para dançar, mas de um jeito compreensivo, como se compreendesse a necessidade inexplicável que a menina tinha de tê-lo por perto.

Se aproximou novamente e não se preocupou em flertar como havia feito da primeira vez, apenas abaixou-se até ter a boca próxima o bastante dos ouvidos da menina e poder sussurrar as palavras que já havia sussurrado tantas outras vezes.

— Por que não vamos para um lugar mais reservado?

Claire sentiu um arrepio que não pôde explicar. Era como se pressentisse algum perigo não identificável. Como se seu corpo lhe dissesse para ficar longe, embora sua mente o quisesse para si de todas as formas possíveis.

— Claro — e estendeu a mão para que ele a guiasse.

Foram para um lugar sombrio onde não havia mais vestígio algum da festa. Até mesmo a música alta não era possível de ser ouvida. Tudo o que era possível de se ouvir eram os barulhos dos animais que habitava ao lugar desconhecido. Claire não perguntou onde estavam, não queria estragar o momento.

Mas ele foi estragado, apesar dos esforços da moça de mantê-lo. O príncipe se aproximou dela de forma bruta e a puxou para si de forma agressiva, sem parecer se importar com a exclamação de surpresa e terror que saltavam dos olhos de Claire.

— Você é minha passagem para o outro mundo, sabia? — disse de forma vitoriosa — O exemplo exato de garota que eu precisava para ser aprovado.

E ele não esperou respostas, pois sabia que não viriam. Já havia feito aquela mesma coisa muitas vezes ante, o que o confortava era que aquela era a última vez. Seiscentos e sessenta e seis vezes. O número estava finalmente completo para que se libertasse.

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