30 de novembro de 2009

O violeiro

O músico tirou o violão de sua capa com cuidado, como uma mãe que despia o filho para um banho. Era um senhor velho não só de idade, mas também de aparência. Os dentes já não tinham mais a brancura e nem a resistência que os dos mais jovens possuíam, os cabelos caiam até os ombros de forma descuidada, quase como se estivessem sido abaixados pela sujeira e não pelo peso natural. Para reforçar o aspecto nada jovial, as roupas lhe caiam de forma suja e nem sequer estavam ajeitadas no corpo de forma correta.

No entanto, o velho não parecia se importar com os olhares de desdém que lhe eram dirigidos ou com sua aparência nada digna de admiração. Parecia ter um prazer solitário de tocar violão para o público que não existia. Algumas pessoas lhe faziam o favor de jogar uma ou duas moedas, mas enquanto este tocava, poderia estourar o mundo e não pararia. Porque estava fazendo música, algo que sempre fez, mas que fez para si mesmo e não para os outros como era seu sonho original.

E a música soava com uma originalidade particular. Era como as músicas que eram tocadas nos velhos e esquecidos filmes dos anos 60, pois era isso o que era. Esquecida, assim como o velho que fracassou no sonho de ser um violeiro profissional.

Mas ele não parecia enxergar isso ou fingia não enxergar. Porque ele continuava a tocar para o público invisível do seu imaginar.

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