10 de novembro de 2009

Beijo de morte

O rapaz segurava o volante com apenas uma mão enquanto a outra se mantinha firme no revólver que furtara do policial morto na rua. O roubo com certeza fora a pior falta de ética que já havia feito, porém, não conseguia pensar naquilo. Concentrava-se somente no seu retrovisor que continuava sem sinal de alguma movimento e na estrada à sua frente. Ele não sabia o que havia acontecido no trabalho de seu pai e nem se preocupara em parar para decifrar a situação. Só chegou lá, viu uma estranha criatura atacando a todos os presentes, pegou a primeira arma que encontrou, que estava na mão de um dos mortos, e saiu correndo, sem se preocupar em estar sendo ou não visto.

O vulto estava demorando mais do que deveria para aparecer e isso só o fez ficar preocupado e ao mesmo tempo aliviado. Manteve o pé no acelerador por mais alguns segundos e depois de um tempo começou pouco a pouco a frear com a intenção de descansar por um ou dois minutos.

No entanto, sua ação não foi nada inteligente. Antes que pudesse respirar uma ou duas vezes, reparou em seu retrovisor que o banco de trás que antes se encontrava vazio agora tinha a companhia da estranha criatura.

Pôde perceber que era uma linda mulher loira. Vestia um manto negro que chegava a cobrir parte dos pés nus e suas mãos possuíam unhas negras e muito bem feitas. Se o rapaz não a tivesse visto anteriormente na delegacia da cidade, teria dito um “olá” bem simpático e começado a sua típica xavecarão, um hábito que já o havia garantido olhos roxos. Mas o perigo parecia apitar em seu pensamento e a vontade de fugir tornou-se onipresente.

De forma quase instintiva tentou abrir a porta do carro, mas não conseguiu. Olhou de forma amedrontada para a mulher e esta só pareceu abrir um sorriso diante do desespero do rapaz.

— Não me reconhece, Afonso? — perguntou enquanto se aproximava até ficar a cerca de dois centímetros do menino — Você me matou naquele dia... Me obrigou a fazer o aborto e eu morri no processo.

Os olhos do menino pareceram se congelar e a fuga que antes tentava fazer pareceu não fazer mais parte de sua mente. Em sua expressão só havia o choque e a boca ligeiramente aberta só reforçava o humor do jovem.

— E os policiais fizeram o que seu pai pediu... Esqueçam o caso, esqueçam o caso — a fantasma continuou — Mas bem... Eu não esqueci.

O sorriso se alargou ainda mais na face da menina e ela se aproximou enquanto seu olhar mudava do calmo para o doentio por vingança. A aproximação tornou-se pouco a pouco mais perigosa até que estivesse perto o suficiente para dar o seu tão famoso beijo de morte. O beijo que quando viva levava aos rapazes à loucura, mas que depois de morta levava os rapazes ao terror extremo e à morte certa.

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