20 de outubro de 2009

Sem título

- O que exatamente você viu?
    Rebecca perguntou sem nem ao menos olhar nos olhos do homem amedrontado à sua frente. Preferiu esquecer de qualquer dica de boa educação que havia aprendido na faculdade de Jornalismo anos antes e somente se concentrar naquele caso que poderia oferecer a oportunidade de sua vida. Ela não queria perder nada. Gravava o que Robert dizia e enquanto escutava concentrava-se mentalmente na matéria que poderia escrever para o Jornal local para o qual trabalhava. Aquela não seria a matéria plagiada e sem originalidade alguma que estava acostumada a fazer. Seria algo diferente, algo que poderia garantir sua promoção.
    - Foi um vulto negro e ele veio para cima de mim antes que eu pudesse correr... Por um momento pensei que eu fosse morrer. Eu não escutava nada, era como todos os meus sentidos tivessem sumido. Não via e nada e tudo o que eu podia sentir era o medo e a morte...
    Rebecca não pôde deixar de revirar os olhos. Que relato mais filme de terror clichê! Era tudo o que podia pensar diante daquelas palavras. Será que tinha perdido a viagem? Por um momento seu impulso foi o de fechar seu caderno de anotações, desligar seu gravador, murmurar um “obrigada” não muito convicto e sair sem nem ao menos se despedir, mas ao olhar para a expressão perdida e amedrontada de Robert, só pôde pensar em ficar. Sentiu como se estivesse grudada àquela cadeira. Movida não pela história clichê, mas pela expressão digna de pena.
    - Continue. - Rebecca disse em um tom profissional. - Faça um relato mais detalhado, por favor. Acha que esse vulto negro tem algo a ver com os cadáveres recém descobertos da rua 92?
    O homem segurou as próprias pernas com força, tentando concentrar as emoções que sentia em um só lugar.
    - Tenho certeza. - Disse em um tom baixo. Rebecca teve que aproximar o gravador da boca do sujeito para não correr o risco de perder nada. - Sabe, eu não estava sozinho naquela noite. - Fez uma pausa enquanto tentava encontrar palavras certas para descrever tudo. - Eu estava com um amigo meu, o Sam. Ele morreu também. Mas não sobrou nada do corpo dele. Me encarreguei de sumir com tudo.
    Rebecca arregalou os olhos diante daquela revelação. Por que diabos o demente havia sumido com tudo?
    - Por que fez isso? - Perguntou em uma voz moderada, embora pudesse escutar seu coração batendo em ritmo acelerado, quase como se fosse capaz de sair pela boca.
    - Algo me disse pra fazer isso. O homem disse. E eu me senti na obrigação de fazê-lo.

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