Dia após dia... Agonia após agonia...

Ele virou um copo incapaz de conter a tentação. Era sempre assim. Dizia que iria parar de beber, mas querer muitas vezes não é desejar. Ele estava ciente do sofrimento que causava para seus filhos e para sua esposa, mas ao mesmo tempo que queria parar, também desejava beber. E a tentação prevalecia.
O gosto do álcool descendo por sua garganta foi satisfatório, mas não supriu suas necessidades. Ele precisava de mais. Abriu a geladeira em busca de alguma garrafa de cerveja, mas não encontrou nenhuma. Seus filhos com certeza as haviam escondido em algum lugar. Não se importou. Ele trabalhava para isso. Seus filhos já não dependiam mais de seu dinheiro e sua mulher após sofrer tantas e tantas vezes por causa da falta dele passou a trabalhar. Agora ele não havia mais obrigação alguma. A renda que adquiria em seu dia de trabalho era gasto do bar da esquina. Trabalhava pensando em beber, sua vida se resumia somente àquilo.
Saiu de casa com seus reflexos ainda sob controle e ao chegar lá sentou-se no banco que já tanto conhecia. Alguns ousaram lhe cumprimentar, mas estava tão ocupado olhando para as diversas garrafas de bebida que nem se deu conta. Pediu uma dose... e depois outra... e mais outra...
A apreciação que antes tinha por vinhos caros ou por cervejas de boa qualidade já não era mais visível. Qualquer cachaça o satisfazia, qualquer bebida, qualquer forma de álcool...
E ele bebia, esquecendo-se pouco a pouco de seus problemas e sentindo a tontura satisfatória. Gostava de ficar bêbado, algo comum entre os alcoólatras. Gostava de ficar em seu mundo particular e de se esquecer do transtorno que causava dia após dia. Uma ótima coisa do álcool, o esquecimento.
E o dia acabou quando ele caiu e mãos tentaram lhe ajudar mais uma vez... e seus filhos chorando... e sua mulher transtornada tentando ajudá-lo ao mesmo tempo que acalmava seus filhos... e o banho de água fria... e os xingamentos... e o sono... e a paz.... e tudo de novo.