Para os amigos Lupiteiros
“Apenas apanhei na beira mar um táxi pra estação
lunar.” Começo dizendo que, embora eu cite a música dos três mestres
nordestinos, o táxi era tão real quanto eu. Amarelo, marcas em azul e um
taxímetro em que o preço subia e subia… E nós descíamos de Santa Teresa,
enquanto pensávamos no que a noite nos reservava. Despretensiosos, os cinco se
amontoaram no carro do taxista mais legal do mundo. Nos sentimos tão felizes
como se tivéssemos pegado um trem para um reino encantado, sem nos importar,
pela primeira vez, com a falta do bondinho charmoso.
Uma
corrida que foi tão corrida quanto podíamos esperar. Ao final, a vontade de
ficar rodando pelo Rio todo. “Leva a gente pra todos os lugares!” Um dos nossos
amigos brincou “Vamos fazer a festa por aqui mesmo!”. Mas tínhamos que ir e o
momento virou memória.
Bom,
o motivo era legítimo. Eu juro! O fato é que tudo começou quando tentávamos
sair do bairro de casinhas adoráveis. E eu prometo, descer é tão difícil quanto
subir, em especial numa noite tão escura… Mas o taxista foi bondoso demais e
aceitou os cinco. Quatro amontoados atrás e o mais alto de todos, de um metro e
oitenta, na frente.
O
caminho foi muito mais incrível que a noite. O taxista nos contou as suas histórias.
Tratavam-se de contos e crônicas, dignas de autores afoitos por relatos belos.
Ele era escritor, tinha até um livro, no qual narrava as suas aventuras, como
as nossas, com os seus passageiros.
A
surpresa veio em seguida, o homem nos contou que também era músico. E compusera
um samba sobre um táxi que rodava pelo Rio de Janeiro inteiro, em que a
comissão de frente, no carnaval carioca, seria o Copacabana Palace. Uma beleza
de música, com versos que nos libertavam de nós mesmos e nos faziam dançar bonito.
A história não acabou por ali, ele logo
colocou o samba. Antes que nos déssemos conta, apagávamos e acendíamos as luzes
do carro, enquanto nos deixávamos sambar dentro de um táxi amarelo. “Brasil,
esquentai vossos pandeiros, iluminai os
terreiros, que nós queremos sambar”. E como todo brasileiro, tínhamos lá nossas
fraquezas. Somos apaixonados pelo tambor e pela roda de gente que dança
sorrindo e cantando.
Avistando a vista do Aterro, nos
sentimos em festa. Tão alegres, aquela foi a melhor dança que tivemos, mesmo
que sentados. E te digo: sambar em um táxi é uma experiência única. Aliás,
vamos combinar: sambar em qualquer lugar é maravilhoso. Em especial no Rio,
porque não existe povo que tenha gingado melhor.
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