17 de março de 2015

Retratos em tons

Pernas se movem. Chinelos, sandálias, sapatos, tênis e pés descalços. Um misto de cores amarelas, vermelhas, azuis, pretas e verdes. Solas que se esbarram num chão de histórias. Tantos anos se passaram por pedras brancas e pretas, que já não são tão simples cores essas. E não são elas, por terem sido o chão de muitas outros tons, gestos e pés. Pisadas rudes, indecisas, leves, rápidas e lentas. Caminhar que se define por um ritmo disforme. O andar de um povo que vem de uma cidade branda, quando o ar não é cinza, mas azul púrpura.

E essas lamparinas tão antigas? Revelam um laranja de uma noite pôr do sol. E andando para sul ou norte da Rua Halfeld, a visão daquelas luzes torna o caminhar um caminho cheio de sois. Todos eles perfeitamente enfileirados, traçando o rumo para o horizonte. Lá no centro, um prédio é batizado de “Teatro Central”. Avermelhado como as lâmpadas, se entrega a um crepúsculo ao luar.
De repente, uma gente toda repleta de alturas faz fila para o espetáculo de sons. E lá dentro, as luzes serão igualmente coloridas, como tudo o que essa cidade tem. Até que o apagar das lâmpadas revelará o fim e, posteriormente, o levantar das pernas e o andar daqueles pés pelo mesmo caminho. Então, de repente, a Rua Halfeld se mostra para sempre dela, quando não é acompanhada por mais andar algum. Permanece, entretanto, um percurso de caminho sol.
Tão ela quanto outros ícones brasileiros, torna-se cena. Ficção ou realidade. Retratos ou pinturas. Por ser arte viva, é eternizada em representações várias. Casais abraçados. Cachorro e amigo. Trabalhadores. Carrinho de pipoca. Crianças. Balões fugidos. Amigos. Todos eles personagens de imagens. Podem ser, igualmente, retratados em palavras. Os tantos passantes de um caminho estrela.
Há, também, quem a retrate inteiramente ela. Quando, em um silêncio de sons, a falta de gente permite a fotografia de uma cidade. E qual outra rua seria adequada para a representação tão fiel de Juiz de Fora? A cidade dorme, mas as lâmpadas ficam acesas. A Rua Halfeld, então, convida o clique. O fotógrafo aceita. A arte se faz ali.

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