Por
vezes rápido e outras devagar, andava de costas sem ver o que chegava. Trombava
em árvores, pessoas, automóveis. Todos gritavam: Olha pra frente! Mas como
poderia ver quando estava andando para trás? Até que por fim um carro parou,
abrupto, logo atrás de seu calcanhar, enquanto uma buzina a tornava surda.
“Qual é o seu problema?!”
Loucura. Poderia separar a sílabas,
dizer as letras, armar palavras com cada uma delas. Cura. Louca.
Loura. Rua. Cola. Ralo. Ia enumerando, todas elas passando por sua cabeça.
Significado por significado.
Até que se lembrou, enquanto olhava
para o céu, de como o sol estava bonito naquele dia e os pássaros... Ah, eles
não paravam de cantar. Sonhou com um bando de gente toda junta, dançando em
sintonia. Eles todos andando para trás, vendo apenas o que deixaram ao
continuarem indo, assim...
“É uma metáfora!”
A moça gritou, enquanto continuava a
andar, dessa vez trilhando outra direção. Esbarrou em um degrau e foi subindo
as escadas. Os sinos anunciavam uma missa, mas ela não veria o padre ou o
altar. Olharia para a expressão de cada um daqueles outros, enquanto fechavam
os olhos e se deixavam guiar pelo invisível.
Ora, mas que metáfora? Tratava-se da
saudade, da lembrança e do passado. Quantas coisas teria deixado passar? As pessoas passam. O seu irmão teria
dito, certa vez, enquanto cantava uma canção tão ruim que a fez rir. O sonho dele era viver de arte. O dela era morrer de amor, porque não sentiria medo algum
com um fim tão poético assim.
E andando, dessa forma, foi
olhando para cada um dos que a encaravam. Essa
menina é louca? Todos pensavam, sem entender. Um executivo trombou com uma
mala nela. Um ciclista gritou. Um menino a sujou de sorvete. E enquanto ia caminhando e olhando para o que
deixava para trás, ia percebendo o quanto aquele mundo era louco, com as
pessoas que só se preocupavam em ir, sem saber o que deixavam. Não sabia o que
escolhia. Só ia. E numa dessas entrou em um trem sem saber o destino. Foi aí
que se lembrou o porquê de tudo aquilo. Ela só desejava mesmo uma viagem para
alguns dias atrás.
Quem dera se o tempo fosse tão
manipulável quanto andar para frente e para trás. Pelo menos havia o
presente. Mas tão logo, ele se tornaria um passado. Questão de segundos, minutos.
Um momento só é ele naquele "instante já".
1 comentários:
Você escreve bem . Tem até um estilo próprio de narrar .
Gostei .
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