21 de setembro de 2012

A tragédia do sol


                O Sol era apaixonado por uma menina. Em todos os dias, ela se levantava, abria a janela, tomava um banho e estendia a toalha. Parecia provocar pela maneira como se demorava, olhando para o céu. Nunca encarava aquela bola vermelha. Preferia as nuvens. A estrela, então, se iludia com a possibilidade. Quer se fazer de difícil. Pensava, rindo-se e inflando-se toda.

            Houve um dia, porém, em que a garota não apareceu. A cortina permaneceu tapando o vidro. A casa ficou quieta, habitada e reservada. Ninguém saiu. Mas entraram outros estranhos. O Sol ficou curioso. Tentou pressionar a Terra para que girasse mais rápido, podendo assim ver a casa de outro ângulo. Talvez pudesse obter respostas. Mas o planeta permaneceu concentrado. Não podia deixar-se atrair pelo pedido. Tinha que ser metódico.
            Chegou a noite e a estrela teve que ir embora. Torceu pelo outro dia. Talvez fosse uma exceção. Veria, na manhã seguinte, a menina. E ela olharia para as nuvens, depois para a rua, sem encarar o Sol. Como sempre fazia. O mesmo charme. A maneira como jogava os cabelos para trás da orelha. A forma como se ria diante das gracinhas das vizinhas que passavam. Bom dia! Gritaria para todas, menos para o corpo celeste que esperaria, incessantemente, o mais singelo olhar.
            A noite passou lenta, mas o Sol voltou a nascer. Esperou próximo à janela. Estava mais quente do que nunca. Nervoso. Amedrontado. O coração batia forte e os raios irradiavam por aí, arrancando o suor das pobres vizinhas que se abanavam. Mas que inferno! Tagarelavam.
            A garota, enfim, apareceu. Porém, estava acompanhada por um homem. Beijaram-se diante das nuvens. Ela ria. Ele ria. Nem olhavam para o céu azul que de repente se esbranquiçou. Não perceberam que as nuvens taparam a estrela em solidariedade. Deixaram tudo nublado. Os dois estavam apaixonados. Cegos para tudo que não fosse eles.
Mas o Sol sofria. O pobre morreu de desgosto. Apagou-se. Deixou tudo escuro por conta de suas trevas. Era o fim do mundo causado por uma tragédia de amor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amei o texto! *-*

Anônimo disse...

Adorei o texto. Parabéns!
Lenise

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