O Sol era apaixonado por uma menina. Em todos os dias,
ela se levantava, abria a janela, tomava um banho e estendia a toalha. Parecia
provocar pela maneira como se demorava, olhando para o céu. Nunca encarava
aquela bola vermelha. Preferia as nuvens. A estrela, então, se iludia com a
possibilidade. Quer se fazer de difícil. Pensava,
rindo-se e inflando-se toda.
Houve um dia, porém, em que a garota
não apareceu. A cortina permaneceu tapando o vidro. A casa ficou quieta,
habitada e reservada. Ninguém saiu. Mas entraram outros estranhos. O Sol ficou
curioso. Tentou pressionar a Terra para que girasse mais rápido, podendo assim
ver a casa de outro ângulo. Talvez pudesse obter respostas. Mas o planeta permaneceu
concentrado. Não podia deixar-se atrair pelo pedido. Tinha que ser metódico.
Chegou a noite e a estrela teve que
ir embora. Torceu pelo outro dia. Talvez fosse uma exceção. Veria, na manhã
seguinte, a menina. E ela olharia para as nuvens, depois para a rua, sem
encarar o Sol. Como sempre fazia. O mesmo charme. A maneira como jogava os
cabelos para trás da orelha. A forma como se ria diante das gracinhas das
vizinhas que passavam. Bom dia! Gritaria
para todas, menos para o corpo celeste que esperaria, incessantemente, o mais
singelo olhar.
A noite passou lenta, mas o Sol
voltou a nascer. Esperou próximo à janela. Estava mais quente do que nunca.
Nervoso. Amedrontado. O coração batia forte e os raios irradiavam por aí,
arrancando o suor das pobres vizinhas que se abanavam. Mas que inferno! Tagarelavam.
A garota, enfim, apareceu. Porém, estava
acompanhada por um homem. Beijaram-se diante das nuvens. Ela ria. Ele ria. Nem
olhavam para o céu azul que de repente se esbranquiçou. Não perceberam que as
nuvens taparam a estrela em solidariedade. Deixaram tudo nublado. Os dois estavam
apaixonados. Cegos para tudo que não fosse eles.
Mas o Sol sofria. O pobre morreu de desgosto. Apagou-se. Deixou
tudo escuro por conta de suas trevas. Era o fim do mundo causado por uma
tragédia de amor.
2 comentários:
Amei o texto! *-*
Adorei o texto. Parabéns!
Lenise
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