6 de junho de 2012

Voo nas águas



            Se eu pudesse, abraçaria a saudade para que ela não me pegasse de surpresa. E aí, talvez fosse mais fácil sentir. Como é difícil! Essa ausência que consome e faz pensar durante um tempo que parece infinito. Às vezes até arranca um sorriso ou dois. Mas a falta fica e se apodera. O momento se instala na mente, cria reviravoltas e ilusões. Parece que a pessoa está ali, perto... E quando a gente estica o braço, percebe que tudo não passou de um lampejo irreal. Ele termina, como todos. A sensação permanece. Olhamos fotos, rimos sozinhos e nos recordamos.

E aí nos damos conta do tempo, o maior dos irônicos. Consegue ser o tipo que nos faz querer que passe rápido quando nos irritamos um pouco com a vida. Vai, vai logo... Mas quando segue, a gente tenta puxar de volta. Grita e implora. Mas ele volta? Que nada. Deve rir lá na frente. Falar baixinho que isso é bem feito! É pra aprender a valorizar. Mas aprendemos? Puf! Nem de longe. Repetimos o erro, uma, duas, três vezes... e mais, até. Nem dá pra contar. Burros, ele deve acusar. Discordo e grito logo. Na verdade, somos mesmo crianças!
Temos essa mania de sermos egoístas. Não saber dividir o brinquedo. Bem infantil mesmo, mas admito o defeito. Repartir o coração do outro é difícil. Queremos ele todo pra gente. Dá vontade de pegar e guardar numa caixinha, lá no cofre da alma, pra ele não bater por mais ninguém. Ah, o amor... Esse sentimento egocêntrico e tão lindo. Apaixono-me por tudo. Gosto do azul e laranja do céu, do cabelo dourado e daquele gato malhado ali da vizinha, que sempre foge de mim. E o que há de mal nisso? Dá vontade de deitar junto, fazer carinho e sussurrar... Depois rir e dormir.
Na noite, visitamos o inconsciente. Mudamos o mundo. Escutamos cores. Vemos a dor. Tateamos o beijo. Saboreamos o suspeito. Nada é condenado. E nesse universo novo, somos levados... Pra onde? Nem nós sabemos. Quando acordamos, vem logo a surpresa. E aí a gente dorme para sonhar de novo ou até tenta até mesmo acordado. Essa imaginação ilimitada esbarra e só nos agarra. Se eu pudesse, voaria e voaria. Nem precisaria ser no ar. Contento-me com o mar. Nessa viagem, desejo ver vários casais felizes e crianças agarradas em balões azuis. Quem sabe assim, tudo possa virar bossa nova. Essa música que vem só e fica. Mas aí acaba nos desorientando de tal maneira que...
Não sei bem onde vamos parar. Mas já sei o que quero. Anseio a música boa e um coração grande, cheio de gente. Uma pista de dança enorme e vermelha, onde todos pudessem dançar.

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