Se eu pudesse, abraçaria a saudade para
que ela não me pegasse de surpresa. E aí, talvez fosse mais fácil sentir. Como
é difícil! Essa ausência que consome e faz pensar durante um tempo que parece
infinito. Às vezes até arranca um sorriso ou dois. Mas a falta fica e se
apodera. O momento se instala na mente, cria reviravoltas e ilusões. Parece que
a pessoa está ali, perto... E quando a gente estica o braço, percebe que tudo
não passou de um lampejo irreal. Ele termina, como todos. A sensação permanece.
Olhamos fotos, rimos sozinhos e nos recordamos.
E aí nos damos conta do tempo, o maior dos irônicos.
Consegue ser o tipo que nos faz querer que passe rápido quando nos irritamos um
pouco com a vida. Vai, vai logo... Mas quando segue, a gente tenta puxar de
volta. Grita e implora. Mas ele volta? Que nada. Deve rir lá na frente. Falar
baixinho que isso é bem feito! É pra aprender a valorizar. Mas aprendemos? Puf!
Nem de longe. Repetimos o erro, uma, duas, três vezes... e mais, até. Nem dá
pra contar. Burros, ele deve acusar. Discordo e grito logo. Na verdade, somos
mesmo crianças!
Temos essa mania de sermos egoístas. Não saber dividir o
brinquedo. Bem infantil mesmo, mas admito o defeito. Repartir o coração do
outro é difícil. Queremos ele todo pra gente. Dá vontade de pegar e guardar
numa caixinha, lá
no cofre da alma, pra ele não bater por mais ninguém. Ah, o amor... Esse sentimento
egocêntrico e tão lindo. Apaixono-me por tudo. Gosto do azul e laranja do céu,
do cabelo dourado e daquele gato malhado ali da vizinha, que sempre foge de
mim. E o que há de mal nisso? Dá vontade de deitar junto, fazer carinho e
sussurrar... Depois rir e dormir.
Na noite, visitamos o inconsciente. Mudamos o mundo.
Escutamos cores. Vemos a dor. Tateamos o beijo. Saboreamos o suspeito. Nada é
condenado. E nesse universo novo, somos levados... Pra onde? Nem nós sabemos.
Quando acordamos, vem logo a surpresa. E aí a gente dorme para sonhar de novo
ou até tenta até mesmo acordado. Essa imaginação ilimitada esbarra e só nos
agarra. Se eu pudesse, voaria e voaria. Nem precisaria ser no ar. Contento-me
com o mar. Nessa viagem, desejo ver vários casais felizes e crianças agarradas
em balões azuis. Quem sabe assim, tudo possa virar bossa nova. Essa
música que vem só e fica. Mas aí acaba nos desorientando de tal maneira que...
Não sei bem onde vamos parar. Mas já sei o que quero. Anseio
a música boa e um coração grande, cheio de gente. Uma pista de dança enorme e
vermelha, onde todos pudessem dançar.
0 comentários:
Postar um comentário