15 de maio de 2012

Roda de gente


            Formavam uma roda sem simetria ou qualquer lei. Atrás, alguns tocavam pandeiros, tambores e cavaquinhos. A música era improvisada, liberdade exprimida em notas que logo viravam vibração e dança. Não tardava, e alguns se aventuravam, entravam e dançavam. O bairro era o de Santa Tereza, o ar histórico e as casas já idosas dali davam ainda mais poesia ao pequeno evento. Perto, um grupo tomava cerveja, ria e conversava. Ninguém censurava ninguém. Nem notavam erros. Só viviam. Aquilo ali era saber viver.

            Depois de três músicas, um rapaz entrou na roda com uma moça. Ele a segurava, jogava para cima e pulava. Ela parecia dançar ballet. Vestia saia por cima de uma calça legging, estava descalça e usava uma blusa azul apertada. Seus cabelos eram curtos, e voavam ao vento, não domesticados com o arco vermelho.
            Quem olhasse, não saberia se eram namorados. Imaginariam. Mas não importava muito. O espetáculo estava naquele todo. Carros passavam lentos, assistindo, quase batendo. Pedestres caminhavam, paravam e andavam, olhando para trás vez ou outra, ainda curiosos com o que acontecia.
            Não importava quais problemas existissem. Esqueciam ali, e só. Mais tarde lembrariam. Ou adiariam, quem sabe? Ainda comovidos com toda aquela energia boa de um grupo que só fazia o bem.
            Um menino desses raquíticos, de rua, chegou para dançar. A mãe que o olhava de longe ficou um pouco envergonhada, porque não queria interromper a arte. Disse que a desculpasse, porque não tinha visto o menino indo e que ele era meio impulsivo. O pobre foi censurado pelos braços da mãe, que o puxaram de volta, aprisionando-o em um abraço sem qualquer afeto.
            O dançarino, vendo aquela situação, só riu. Afirmou que não fazia mal algum. Pelo contrário. Ajudava a roda. Puxou o menino, que assustado, entrou no meio do casal sem saber ao certo o que fazer. A garota pegou nos bracinhos para que ele se soltasse e depois de alguns poucos segundos não se fazia necessário qualquer intervenção. Ele entrou na dança.
            E aí se esqueceu da fome. Esqueceu que apanhava do pai à noite. Da escola que não frequentava. Esqueceu foi de tudo. Sorriu sincero. Riu demais mesmo. Foi feliz. Naquele espetáculo, o milagre vinha e ficava. Dançou foi muito. Ele ali, no meio do casal, que ninguém sabia se era de namorados. Nem importava.
No final, o garoto com o jeito inocente que toda criança tem, perguntou se namoravam. A moça riu, e o rosto do rapaz ficou vermelho. Não responderam. Nem precisavam. 

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