10 de março de 2012

A guerra do sol

Estava o lençol embrulhado, jogado, e esquecido. Camuflava-se na brancura do jogo de cama, confundindo-se ora com travesseiro, ora com o próprio colchão. O homem, com a barba por fazer invadindo o rosto, aninhava-se em seu próprio abraço. Olhos brigavam para ficar fechados diante de uma luz que insistia em tentar lhes abrir. Uma guerra travada entre a tarde da noite e o dia da manhã. No meio dessa falta de coragem, surgiu a moça, com um copo de café na mão e certa propriedade. Foi então que um bilhete voou de sua posse, pousando no abdome do rapaz, e instalando-se, sem nem mesmo ameaçar cair. Obediente, e ciente de seu próprio papel.


O sol venceu a guerra, fazendo com que olhos entreabertos dessem lugar a dois inteiros, que percorreram pelo colchão. E depois pelo quarto. Este, desocupado, arrumado e desamparado. Sem vida, como se os próprios móveis dessem a falta, e perdessem a graça da decoração. E o bilhete... Ah, o amargo anúncio. A amante tentou lhe confortar com um café, que nem o açúcar veio a adoçar.

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