6 de fevereiro de 2012

A magnífica

Fiquei meio tonto nesses dias. Eu, no trabalho. Ela, fazendo sei lá o que. Invadindo o meu espaço, talvez. O pequeno escritório que parecia abrigar tanta gente. Quase chegava a sufocar. Um a mais, e o oxigênio poderia se esgotar. E aí, meu amigo, matança geral. Eu tinha um jogo mental de ficar calculando o recorde de habitação. Já chegou a vinte pessoas em dias regulares, e a cinquenta em uma festa de final de ano. Claro que metade ficou para fora, nos estreitos corredores.



Naquele dia, porém, quase morri. E só havia cinco pessoas. A minha hipótese é a de que ela conseguia representar tantas figuras femininas de uma maneira tão espetacular, que superlotava. E aí, só pude olhar. Senti-me um pouco tonto, como que envenenado com aquela falta de ar puro. Quase abri a janela. Mas a ideia não chegou ao cérebro, estava danificado. Até que a percebi chegando, ali, daquele jeito. De fininho. Uma mão colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, a outra segurando uma pasta preta misteriosa. O terninho caia de maneira extremamente sexy, embora não me atrevesse a utilizar tal palavra para descrever uma pessoa de tal porte. Exuberante, talvez. Não muito bom. Talvez magnífica. Sempre achei a forma como as sílabas se separavam na boca dignas de seu significado. Fiquemos então com o adjetivo.

Logo que vi, sem que pudesse apertar um botão de emergência para que a água apagasse o incêndio em potencial, estava na minha frente. Inclinei-me para trás na cadeira, sorri, e quase cai. Ela deu um pequeno risinho, contagiando o ambiente com o seu fascinante senso de humor e perguntou-me onde poderia encontrar o Senhor Peccini. Respondi que era o próprio e fiquei feliz pelo meu sobrenome fazer-me parecer tão maduro. Acontece que uns dois segundos depois dessa reflexão, ou menos, ou mais, ela disse que estava ali para me representar um cliente que me processava. Até achei aquele ar profissional todo muito incrível, embora eu corresse o risco de ter todo o meu dinheiro fora da minha conta. Cogitei chamá-la para sair, mas talvez fosse muito não profissional. Fiquei entre uma arfada e outra, não sabendo se suspirava pela bela mulher ou pela encrenca que acabara de arrumar. Dizia a lenda que vinha tudo em conjunto. Se fosse verdade, eu pelo menos poderia conquistar a magnífica.

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