23 de janeiro de 2012

Daquele jeito e só

— Mas ora... È a última música.

O cheiro de homem. Mas era um menino. Cabelo espetado, camisa pólo, calça jeans cara, um sapato indefinido. Tênis nada esport. Aquela vontade de ficar junto. Ele, a seduzindo com suas mentiras. Ilusões. Estudo na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faço Direito. Segundo período. E você? Ela mentia mais ainda. Estava no ensino médio, primeiro ano. Alegava ter dezoito, e se preparar para entrar na USP. Isso mesmo, a conceituada de São Paulo. O encontro dos dois? Mero acaso. Vagavam por Búzios, e acabaram entrando em um bar meia boca. Estavam duros, porque a viagem chegava ao fim. Uma música clássica tocava. Nada a ver com o ambiente. E aí dançavam. Ele com aquele jeito de homem. Ela com a expressão de menina querendo ser mulher. 



— Eu realmente deveria ir. Vou viajar amanhã cedo.

A vontade de ficar mais. Ali, junto dele. Trocar carícias. Essa inocência de beijos, e nada mais. O amor de verão. Sonho de toda garota. O pai a esperava. O telefone vibrava. Aquela urgência toda. O medo de tomar uma surra. O desejo de violar a regra. O ritmo alucinante. O suor desnecessário na lentidão da música. Os lábios dele no pescoço dela, pedindo para ficar mais. Aquele jeito de homem de um menino de dezessete. Querendo levar para a cama uma de quinze. Poderia ser ali no banheiro mesmo. A primeira vez. Não precisava ser perfeito. O bar estava deserto.


— Você poderia dormir comigo...


O arrepio. Mas e os carinhos? Só queria aquilo. Mal trocaram beijos. Apenas alguns. Não o suficiente. Queria deitar na praia de mãos dadas. Um do lado do outro. Aí contemplar as estrelas. Trocariam telefones. Quem sabe se encontrariam uma outra vez. Um romance pela internet! A sugestão ao pé do ouvido anulava toda aquela possibilidade.


— Vou viajar — a desculpa esfarrapada. A voz trêmula — Acho que eu devia realmente ir.


Queria que ele pedisse o telefone. A música parou. Um abraçava o outro. As mãos leves, prontas para se soltarem. Aquele jeito de romance iludido da garota. A empata foda dele. O azar. Por que não tinha sorte? Era atraente, afinal das contas. Mas tinham interesses contrários.


— Foi um prazer conhecê-la.


A mudança no tom de voz. O jeito mimado de um menino que não conseguiu o seu brinquedo. Foi até o bar. Deu as costas. Pegou uma cachaça barata. Talvez tivesse sorte em outro lugar. Com garotas mais bêbadas. Ela ficou ali, o vendo beber. Resmungar. Seu celular vibrou. Saiu. O pai. Disse que havia se distraído, mas que já estava voltando. As mãos nos lábios, pressionando. Queriam memorizar a sensação. A respiração no pescoço. O coração acelerado. O romance não conquistado. E aí correu. Como a menina que era. Os cabelos esvoaçantes. O cheiro de homem sumindo ao vento, saindo de si. A menina bem melhor do que ele. Iludida, mas correta. Ele aprenderia a desejar garotas daquele jeito e só. As confiáveis. As inocentes. Porque o mundo não tinha mais disso. Era raridade.

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