23 de setembro de 2011

O pássaro da paz

              Enquanto ainda houver um pássaro voando, existirá esperança. Falaram essa frase quando ela ainda não fazia sentido. Na época, o céu era azul e as nuvens se moviam sem dificuldade por não terem que disputar espaço com as outras. Também existiam muitos animais que corriam pelos campos ou tentavam chegar mais perto do sol. O mundo estava em seu esplendor.
              Eis que um dia um homem decretou que o planeta viraria escuro. Para anunciar sua escolha, estourou canhões e despertou a tristeza em crianças até então felizes. As cinzas espalhavam-se pelos bosques, voavam, aventuravam-se, grudavam na roupa de humanos... eram livres no movimento, embora trouxessem a morte. Junto com elas, explosões anunciavam o fim de vidas e davam sinal de que novas almas partiam.
               Diante de tudo isso, um menino chorava e suas lágrimas formavam-se com medo e culpa. Temia morrer e culpava-se, porque não queria chorar. Seu dever, agora que seu pai morrera, era o de cuidar de sua mãe. Porém, ao invés disso, aconchegava-se no colo materno e ouvia um cantarolar baixinho misturado com explosões. Houve uma pausa e, após isso, um sinal longo e barulhento. Poderiam finalmente voltar para casa.
               Ficaram mais um tempo no porão e depois subiram. Sua mãe pediu que brincasse no quintal e ele foi, embora não quisesse. Pelo menos poderia ficar sozinho e chorar mais, sem que vissem.
               Sentou-se em um monte de neve e olhou para a árvore sem folhas. Nenhum pássaro. A frase de seu pai martelava em sua mente. Precisava achar algum ser voador. Somente um pardal ou qualquer semelhante poderia buscar a paz no paraíso, porque humanos não conseguiam voar. Esperou um tempo, vasculhando as alturas. Nuvens tapavam o azul. Céu e terra misturavam-se em uma cor só. Branco para todos os lados.
               Após um tempo, cansou e fechou os olhos, visualizando o pássaro em sua imaginação. Abriu-os e viu. Um sorriso espalhou por sua face. Levantou-se e correu atrás da ave, tentando se comunicar. Ela ficou um tempo voando e depois sumiu no horizonte. É provável que tivesse ido ao encontro da paz.

1 comentários:

Gi Zamai disse...

Maravilhosamente lindo! Por Deus, sempre haverá um pássaro esperança para fazer brotar um sorriso...Grande abraço

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