3 de setembro de 2011

Ele sozinho

                Interrogação. Não havia outro sinal que pudesse encerrar as frases que se formavam pouco a pouco em sua mente. Seriam seus pensamentos realmente seus? Não haveria um intruso, qualquer coisa, que os estivessem colocando ali naquele momento? Parou. Estático, diante da falta da razão, da falta de tudo. Nenhuma certeza. Somente dúvidas.
                Olhava para o outro que se encontrava à sua frente, admirando as linhas de seu rosto, as curvas de seu corpo. Cada traço. Não se detinha na aparência em si, o encanto estava no todo. O rapaz falava de um jeito decidido e contava suas experiências como alguém que não tivesse problemas ou defeitos. Seria isso possível? Era óbvio que sim, porque se não fosse, aquela pessoa simplesmente não existiria.
                Seu sonho estava materializado bem na sua frente. Não se tratava de qualquer figura feminina. Estava aí seu crime. Seria um crime? Gostava de alguém que não deveria lhe despertar interesse. O que de fato significava? 
                Deteve-se, mais indeciso do que nunca. Sentiu saudades do tempo em que as suas perguntas giravam em torno de qual sapato deveria comprar ou qual seria a sua nota de matemática. Nostalgia boa! Porém, agora que essa tal puberdade chegara, ficou mais confuso do que jamais ficara. Um milhão de sentimentos em um corpo só. Como poderia suportar? Sentia vontade de explodir, de se matar, qualquer coisa. Tudo era melhor do que se enfrentar.

                Trancou-se no banheiro do lugar e olhou seu próprio reflexo no espelho. Olhos nos olhos. Ele contra ele. Encarava-se e perguntava-se. Olhos nos olhos. Nenhuma resposta nas pupilas. Apenas dúvidas, medo, tudo. Uma mistura de adolescência, infância, juventude, velhice e meia idade. Mistura de experiências e sentimentos. Mistura, mistura, mistura. Os pensamentos se juntavam em uma homogeneidade. Quais desses sentimentos seriam de fato dele? Todos? Ou nenhum?

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